marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
160 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Edson – A senhora reforçou a tese de que ele gostava muito de ler...
Tereza – Olha, ele me deu uns livros, alfarrábios mesmo, um livro
sagrado, não sei se era a Bíblia, não tem capa, não tem mais nada.
Ele mandou para mim, daqui do Rio, um dicionário de francês e
Os Lusíadas, de Camões. Isso quando eu estava me preparando para
entrar na faculdade, escrevi para ele aqui no Rio afirmando que faria
Letras, neolatinas, então, imediatamente, ele enviou o dicionário e
o livro de Camões. Eu fiz o vestibular e cursei só um ano, depois
quando minha mãe morreu, em 1947, larguei tudo e fui para o Rio,
onde prestei outro vestibular. Lá na Bahia eu iria fazer neolatinas –
Português, Francês, Espanhol, Latim – aqui eu fiz só português e
literatura, na Suam.


Edson – A senhora sabe dizer se na infância Marighella teve
alguma doença grave?
Tereza – Não. Ele era muito sadio, tinha uma saúde de ferro. Ora
ele suportou aquela prisão da Ilha Grande e Fernando de Noronha,
em São Paulo e outras vezes, sendo inclusive baleado em 1964, dentro
do cine Esky-Tijuca.


Edson – Esse interesse pela leitura era presente na infância?
Tereza – Lia tudo, tudo que passava na mão dele ele lia. Quando
saia com mamãe, queria ler todos os anúncios, no cinema, em casas
comerciais, mamãe querendo andar com ele, puxando ele, e ele lendo.
Mamãe lembrava muito a gente do cinema Polytheama, ele dizia,
com quatro anos: PO-LY-THE-A-MA. Outra coisa que ela dizia é
que quando ela lia “Nabocadonosor” ele corrigia: não é na “Nabo-
cadonosor” é “NA-BU-CO-DO-NO-SOR”.


Edson – No livro de Emiliano José (Carlos Marighella – O ini-
migo número um da ditadura militar), o autor afirma que Marighella
contribuiu muito para complementar a alfabetização da sua mãe?

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