marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
170 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

dinheirinho lá em Salvador, e começava a comprar por conta dele
mesmo. Mas o pai comprou muito livro para ele.
Olha, ele tinha livros, esses livros de política, sobre o Partido
Comunista, essas coisas assim de política. Ele tinha livros que ele
mandava vir de fora e quando ele foi preso meu pai enterrou os livros,
tinha tanto livro, tanto livro, que meu pai não sabia o que estavam
dizendo aqueles livros, ele não os lia. Quando soube da notícia que
ele foi preso, meu pai ficou com medo, fez um buraco enorme e en-
terrou quase aqueles livros todos. Ele dizia: – Eu não sei o que tem
aí nesses livros, eu não sei se vai comprometer mais ainda. A polícia
estava caçando ele por tudo que era lado.


Edson – Como é que vocês ficaram sabendo dessa perseguição?
Tereza – Foi pelo rádio.

Edson – E o lazer entre os irmãos, como era o lazer entre vocês?
Tereza – Era uma farra danada, quintal grande, um corria para
lá, pegava o outro, tinha guerra de travesseiro, a brincadeira era boa.
Tinha lá no terreno da oficina uma espécie de incinerador, um forno,
que meu pai mandou fazer, porque tinha uma marcenaria na esquina
da rua, então, o dono da marcenaria entrou em contato com meu pai
para queimar a serragem, os restos de madeira. Então, a serragem ia
para a oficina para ser queimada no forno. E o forno era alto, a gente
subia ali, em cima de uma escada, apoiada na própria terra, que existia
para jogar o material a ser queimado no forno. A brincadeira da gente
era subir ali e dar um pulo para ver se pegava o outro.


Edson – Seu pai aproveitava as crianças, com suas brincadeiras,
para o desempenho de certas atividades, é o que relata Emiliano
José, ao citar o episódio em que ele construiu uma bomba hidráulica
através da observação de uma roleta que ficava na porta da oficina,
onde vocês brincavam.

Free download pdf