marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
188 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

profissão, mas quando era uma família totalmente clandestina, que
só vivia do trabalho revolucionário não podia, você podia fazer uma
tradução, era uma coisa, tudo não era registrado, não podia, você
não podia dar seu nome, você não podia dizer onde você estava tra-
balhando, tudo era muito difícil. O Marighella era um homem que
gostava de música, que gostava de comprar disco, por livro ele era
apaixonado, livro era a grande loucura dele, e se ele passasse numa
livraria e visse lá aquela coleção, naquela época do Pocket Book, ele
comprava de tudo quanto era coisa. Até uma coisa muito pitoresca
sobre ele, como ele escolhia os assuntos, daquele dinheiro pouco, isso
que eu quero dizer para você. Ele não comprava roupa praticamente,
eu estou te dizendo que naquela época o Partidão tinha um trabalho
de solidariedade, nós usamos muitas roupas usadas por outras pessoas,
roupas em bom estado. Ele como parlamentar ele nunca comprou um
terno. Usou os ternos dados pelo Campos da Paz, que era um médico,
de família tradicional, revolucionária. Campos da Paz achava que o
Marighella, sendo deputado, tinha que estar bem vestido.


Edson – A senhora falou em música, que tipo de música ele mais
gostava?
Clara – Ele gostava de música italiana, ópera e de música popular
brasileira. Chorinho, dessas coisas ele gostava muito.


Edson – Nos poemas dele a gente percebe uma certa exaltação
do samba...
Clara – É música popular brasileira.


Edson – Ele tinha o hábito de ouvir música. Como que era a
relação dele com a música? A senhora também gostava, não é?
Clara – Eu estudei piano em Alagoas. Mas ele gostava muito
de trabalhar ouvindo música, que até eu contei na entrevista do Jô
Soares, eles ficaram até assim emocionados, porque o negócio dele

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