190 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
Edson – Supria aquela...
Clara – Exatamente. Todas as pessoas que conviveram com ele,
tiveram um convívio muito fácil. Outra coisa ele era limpíssimo e
arrumadíssimo. Eu nunca vi um cara tão organizado, olha que na
clandestinidade ser organizado não é brincadeira, tudo dele, os livros
arrumados, tudo em pacotinho enrolado com o nome em cima. O
jornal, não era como agora, o papel de tal cor, essas coisas modernas,
a vida era muito modesta, então você tinha que resolver suas coisas
de acordo com as circunstâncias.
Edson – Eu gostaria até de mostrar dois exemplares, dois livros,
que a dona Tereza, ela guardou. Esse aqui provavelmente, ele entrou
em contato na escola. Esse aqui, um livro de poemas de Casimiro
de Abreu.
Clara – Ele lia muito.
Edson – Além de política, ele lia basicamente qual assunto?
Clara – Ele lia tudo, tudo, tudo. Não só lia tudo, ele leu muita
poesia, tanto que você vê que ele era poeta, um revolucionário poe-
ta, e não um poeta revolucionário. Ele lia muita história, filosofia,
bíblia.
Edson – Essa me parece que foi na escola. Bíblia também lia?
Clara – Lia tudo. Ele tinha um interesse. O Marighella tinha uma
cultura geral e uma grande curiosidade intelectual. Ele achava que era
importante a pessoa ler, estudar e conhecer. Você vê, ele era estudante
- não sei se a Tereza contou – ele estudou grego, começou a estudar
grego. Estudou francês, quando era estudante aqui na Bahia ainda.
O grande problema dele com o idioma era o seguinte, ele não tinha
facilidade para falar os idiomas, porque, como foi muito autodidata,
ele estudava sozinho. Na cadeia ele fez muito isso. Lá ele estudou
grego, ele lia o livro, ele tinha que ler, o som para ele era muito difícil,