marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
228 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

qual acredito Marighella fizesse parte, liderou a conhecida Conferência
da Mantiqueira, durante a qual se reorganizou o PCB, exatamente
no ano em que nasci. Nessa conferência, meu pai foi eleito para o
Comitê Central.
Um ou dois anos depois, iríamos nos mudar para o Rio de Janeiro,
onde fomos morar no Grajaú. Com o fim da ditadura Vargas, em
1945, o Partido entraria na legalidade e meu pai seria eleito deputado
federal por São Paulo, nas mesmas eleições que consagraram Prestes
senador. A bancada comunista, nessa época, conseguiu brilhar na
Constituinte. Em 1948, mudamo-nos do Grajaú para a Rua Gustavo
Sampaio, no Leme. Lembro-me, inclusive, do nome do edifício em
que morávamos: Majoí. No apartamento em que morávamos era
extremamente comum a presença dos companheiros de meu pai,
principalmente dos que compunham a “fração parlamentar”. As
figuras de Marighella, Grabois, Pomar, dentre outros, tornaram-se
bastante familiares.


Edson – Quais as recordações que você tem de Marighella nesse
período?
Marcos – Em 1948, com seis anos, contraí pleurisia, após uma
pneumonia mal curada. Era uma doença pouco conhecida, à época,
e sua cura estava condicionada à importação de antibióticos, extrema-
mente difíceis de serem adquiridos. Graças a ajuda de companheiros,
no entanto, foi possível conseguir estreptomicina, que deveria ser
aplicada de quatro em quatro horas. Durante quase um mês sofri com
as injeções, aos cuidados de minha mãe e meu pai. Depois de certo
tempo, tornara-se verdadeira tortura, pois – a mim – parecia não haver
lugar no corpo que não tivesse sido picado. Cada aplicação era motivo
de choro e lamentações, uma verdadeira novela que Marighella sabia
muito bem contornar. Com jeito, começava a me contar histórias e,
quando me distraía, – zás – de repente, aplicava as injeções. Essas
histórias ficaram gravadas na minha memória. Eram histórias de um

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