marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
290 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Edson – Você estudava onde?
Carlos – No Mallet Soares, na Xavier da Silveira, em Copacabana
mesmo. Por sinal foi o colégio do Vladimir, do Moreira Franco, tem
uma série de pessoas conhecidas que estudaram lá no Mallet.
Da diretoria do jornal, o tesoureiro era o Flávio Molina, que
morreu assassinado. Foi um dos primeiros desaparecidos que foi en-
contrada a ossada dele. E o Frederico Mayr, que era um dos editores
do jornal. O outro foi o Paulo Henrique, que ficou preso nove anos
e os demais foram pessoas que não se envolveram com a luta armada.
Para você ver o nível de seriedade de quem era secundarista. Bom, a
partir daí foi aquele mecanismo, a repressão foi ficando mais violenta
e nós que tínhamos um relacionamento muito grande, particular-
mente, eu tinha um relacionamento muito diversificado em diversas
outras áreas, fui reunindo as pessoas dispostas a resistir à ditadura.
Então, nós começamos a formar grupos de estudo, grupos de debates,
mas já voltado para uma necessidade de reagir ao golpe, de reagir à
ditadura, fazer frente ao processo de endurecimento do regime, fun-
damentalmente, pela luta por mais liberdade, pois cada passo que a
gente dava era uma cacetada. Tentava entrar numa turma, tentava um
grupo de estudo era impedido. Tentava um grêmio era reprimido, isso
em nível de diretoria, de professor, quando se conseguia passar por
tudo isso com bastante dificuldade, bastante sacrifício, no peito e na
raça, aí começava a levar tiro nas manifestações, cacetadas, bombas
de gás, depois tiro.


Edson – Isso foi quando?
Carlos – Na verdade esse processo começou logo após o golpe,
já em 1964. Nós já tínhamos alguns amigos, companheiros, que
tentavam fazer alguma coisa, justamente naquela ocasião quando o
Marighella acabou levando um tiro resistindo ao golpe. A gente era
garoto demais, não tinha nenhum adulto, éramos da mesma faixa
de idade. A partir daí alguns deles, coincidentemente, estudavam no

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