marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
312 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Jacob – Era uma pessoa organizada, não com excesso, não era
fanático de organização, mas era organizado. Quanto a ser apressado,
não era habitual, se comportava com bastante equilíbrio.


Edson – Em algum momento você o viu irritado com o partido?
Jacob – Às vezes, a coisa não sai como a gente quer, isso acontece,
qualquer um tem essa reação, mas não que fosse característico dele,
permanente.


Edson – Vocês atuaram juntos de 1951 a 1953 em São Paulo,
sendo o ponto-chave a greve dos 300 mil. Eu queria ver como vocês
interpretaram dessa atuação o “Manifesto de Agosto” de 1950. Se a
posição de vocês era comum em relação ao “Manifesto de Agosto”,
se não for qual a posição de Marighella?
Jacob – No “Manifesto de Agosto”, eu não estava aqui em São
Paulo, eu vim em 1951. Então, já é posterior ao lançamento, quando
saiu o Manifesto eu não estava em contato com ele, ele já estava aqui
em São Paulo e eu estava atuando no Rio. Em 1951, eu fui deslocado
para São Paulo e passei a atuar junto com ele. Aí já estava havendo,
digamos assim, um certo recuo com as posições do manifesto, uma
certa adaptação, que viria com o tempo a inviabilizar a aplicação do
próprio manifesto, o delírio de suas palavras de ordem e assim por
diante. Naquele momento que eu cheguei aqui em São Paulo, já havia
uma resolução da Comissão Executiva de retorno aos comunistas aos
sindicatos, em reação a cassação do registro do partido, da repressão
que se seguiu, foi a saída dos militantes dos sindicatos e a tentativa
de organizar, na prática, sindicatos paralelos, isso desde 1948, em
1951 era evidente que isso não dava certo, isso só tinha isolado
os comunistas. Quando eu cheguei aqui em São Paulo, havia sido
colocada a palavra de ordem de retorno aos sindicatos, isso estava
sendo aplicado aqui em São Paulo e ia dar resultados justamente na
greve de 1953, quando estávamos aqui, quando foi possível coor-

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