marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
318 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Edson – Ele falou que o admira, ele foi muito pontual, “a his-
toriografia deve muito a Gorender”, mas esse comentário a respeito
da Comissão de Mortos e Desaparecidos, o objetivo ali não era... “só
os padres serem os culpados, eram amigos de meu pai, de modo que
Gorender foi muito duro em relação aos padres”. Eu queria saber se
o que mais te imbricou nessa Comissão dos Mortos e Desaparecidos
foi ela ter se baseado na versão de Frei Betto?
Jacob – A comissão não se baseou em nenhuma versão. O
relatório que deu origem ao voto a favor da concessão da pensão,
eu tenho esse relatório e ali diz que é um assunto que o relator não
pode resolver. O que ela se limitou a constatar é que Marighella foi
morto na rua e que a polícia tinha absoluto domínio de tudo. En-
tão ela podia ter prendido Marighella com vida, como atiraram em
Marighella e mataram, isso justifica a pensão. O que eu comentei
é com base numa série de artigos que saíram na imprensa, naquela
época, antes da concessão, foi um fato muito comentado. Todas essas
matérias eram inspiradas na versão – no caso, a viúva de Marighella,
Clara Charf, apresentava a Comissão – eram baseadas na versão de
frei Betto. O frei Betto tem inclusive no livro dele um ditirambo
que é uma homenagem a Clara, fez um elogio rasgadíssimo. É uma
opção dela de acreditar no Frei Betto ou não. Eu não tenho nada
com isso. Mas aí é um problema de verdade histórica, o Marighella
é um personagem que está acima do fato dele ser pai do Carlos
Augusto, ele é um personagem político, ele não pertence a Clara,
ao Carlos Augusto, nem a ninguém, está na memória histórica do
povo brasileiro. Eu não podia ali, num caso, num episódio em que
foi a morte dele, a maneira como ocorreu, ter qualquer atitude de
complacência com a versão que eu considero absolutamente inve-
rídica. Eu não fui duro, eu simplesmente disse que lamentava eles
terem adotado essa linha.


Edson – A sua posição mais uma vez...
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