marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
348 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

uma atuação destacada e o Marighella era um desses nomes. Depois,
em 1947, cassaram o registro do partido e eu perdi contato com o
Marighella, continuei ligado ao partido e caí em janeiro de 1947. O
pessoal me mandou trabalhar no Imprensa Popular, eu era tão burro
na época que o que mandava a gente fazia. Você conhece o Rio?


Edson – Sim, conheço.
Salomão – O pessoal escolheu um lugar que era uma beleza, era
ali na Rua do Lavradio, você andava uma esquina, quase na esquina
da Relação, era a polícia central naquela época, atrás tinha um morro,
o morro de Santo Antônio, me parece que demoliram lá no Rio, e
se a polícia fosse escolher um mesmo lugar que a gente não ia esco-
lher outro: era ali. Bom, ficamos lá, fui preso, saí dois anos depois.
Depois foi tudo meio conturbado pelo “Manifesto de Agosto”, fui
preso novamente em 1953, depois em 1954 fui candidato – naquele
tempo você era candidato para driblar os caras – e em 1954, com o
processo que eu tinha lá, decretaram a minha prisão, com o golpe
que houve, e aí eu vim embora para São Paulo. Quando eu cheguei
em São Paulo, fui trabalhar na Seção de Organização e aí o primeiro-
secretário do partido era o Marighella, aí eu tive um contato com
ele aqui, mas era muito restrito. Eu era de uma seção, ligado a outro
secretário, e ele era da Executiva Nacional, que estava em São Paulo.
Meu contato com ele era relativamente pequeno, era ocasionalmente
em alguma reunião.
O que posso dizer para você da época? Você ia encontrar um cara
boa praça, liberal, se dava bem com o pessoal, não enchia o saco,
porque tinha uma escola naquela época no partido, que achava que
para você ser um bom comunista tinha que encher o saco de todo
mundo, cumprir um monte de exigências absurdas, coisas que você,
que está estudando a história do partido, deve conhecer. Ele não era
dessa escola, infelizmente tinha pessoas que por índole pessoal se
davam muito bem nesse sistema.

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