marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
366 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

área, panfletava a área interior, no meio da ação parava o trânsito
inteiro, entrava nas lojas e no comércio e panfletava. A gente fazia
um escarcéu, a gente se preparava para tudo. E isso exigia um grau
de preparação grande, a gente tinha isso, cumpria à risca. No início
da nossa retomada, a gente teve até problemas de uma preparação
um pouco falha, andava acontecendo acidentes, incidentes, a gente
termina saindo superbem nisso tudo. Houve baixa, morreu gente no
conflito com a polícia, mas a gente se saiu bem, consegue e aprende
muito com isso. Então, a gente muda um pouco o rumo, o foco de
ação do GTA. A gente ocupa uma torre de transmissão de rádio, foi
exatamente no dia em que o estadunidense pisou na lua. A gente
ocupou a torre da Rádio Nacional, aqui em São Paulo, que hoje
é a CBN, na época era uma das rádios de maior audiência, às sete
horas da manhã. Havia um programa de maior audiência, que era
policialesco, relacionado ao crime, nem sei, devia ser o próprio Gil
Gomes, mas não sei quem era o locutor-chefe desse programa. Era
o programa de maior ausência e a gente ocupa a torre e bota uma
mensagem gravada do Marighella, nós deixamos lá um gravador e
ele repetiu duas ou três vezes aquela mensagem.


Edson – Dessas ações que você narrou até agora, qual era a
participação de Marighella em termos de comando? Tinha alguma
orientação específica por parte dele? As decisões passavam por ele?
Manuel – Não.


Edson – Tudo isso era decidido pelo GTA?
Manuel – Não só era decidido. Provavelmente, haviam algumas
orientações: façam isso, não façam aquilo. Mas não havia esse grau
de centralização, de ele ser o comandante, não era isso não. Pelo
contrário, o grau de autonomia dos grupos era muito grande, era o
oposto. É aquela história: que quem quiser fazer que faça. A gente
seguia a risca aquelas coisas todas. A própria teorização dele, o primei-

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