368 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
Manuel – Não era um companheiro qualquer. O cara tinha um
carisma muito grande. Por exemplo: se depois de uma ação chegasse
uma informação que o Marighella acha isso assim, assim, tinha um
grande peso. Se fosse uma crítica ou se fosse um elogio, vibrou, achou
fantástico, tudo tinha um peso muito grande, a figura dele. É um
mito assim...
Eu tinha um respeito muito grande, tinha uma confiança muito
grande nele, na proposta dele. Eu achava que o caminho era por aí.
Essa história de não exigir grandes centralizações, uma tentativa de
alguém que tinha consciência da força do outro lado. Sabia que a
repressão sobre a gente ia ser muito forte. Eu acho que foi um ca-
minho, mas pra mim, com a clareza que ele encontrou. Tenho essa
clareza, que ele optou por isso conscientemente. Ele próprio fazia
questão de não ser visto como eu o via, ele fazia questão de não ter
essa... De ser um a mais. Ele escreveu isso e praticava isso. Se tenho
essa visão, é problema meu a importância que eu atribui a ele, mas
ele próprio se preocupava em se colocar como um a mais naquelas
horas todas, por todas as razões do mundo: teóricas, éticas, mas lhe
garanto também por uma questão de segurança.
Dois meses depois da minha prisão ele estava morto, já devia
ter passado pela cabeça dele essa possibilidade da morte, podia estar
presente, estava presente para mim, imagina pra ele. Ele com toda ex-
periência, a vivência, os problemas anteriores, as ditaduras anteriores.
Edson – Quando foi esse contato que você teve com ele?
Manuel – Foi depois do sequestro do embaixador.
Edson – Foi o único contato que você teve com ele?
Manuel – Foi, foi. É uma coisa que também é muito explorada,
alguém de repente já deve ter falado. Ele achou incorreta a ação do
embaixador, coisas desse tipo. Foi exatamente nessa reunião, a única
reunião que participei com Marighella e não teve nada disso. Real-