EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 391
Noé – Eu não estava de acordo. Ajudei o Câmara, que era muito
meu amigo, naquilo que foi possível sem me comprometer com a
organização deles. Ajudei ele pessoalmente, mas não concordava com
aquilo, não quer dizer que eu não cheguei a pensar nisso, a garotada
se entregou à luta armada com um heroísmo fantástico.
Edson – Voltando um pouco, a Clara falou para mim que ele
gostava muito de exercício físico, além de futebol, lá na prisão ele
pratica esportes, exercícios, corria?
Noé – Não, era futebol e natação. Nadava muito bem, tinha praia
o dia inteiro. Lá na Ilha Grande era praia. Exercícios ele fazia, tinha
muita consciência, era um homem fortíssimo.
Edson – Bebia ou fumava?
Noé – Não. Lá na cadeia não tinha bebida. Aqui fora era guaraná.
Eu almoçava com ele às vezes, num boteco qualquer, nos encontros
que a gente tinha, eu nunca vi o Marighella beber.
Edson – Ele comia muito?
Noé – Quando saíamos para comer gostava, sobretudo, de peixe.
Edson – Aquela revista Veja diz que ele era apreciador de batida
de limão, se fosse não teria problema nenhum.
Noé – Craque de futebol ele era, craque mesmo, isso ele era. Nós
chegamos a jogar futebol contra os integralistas que estavam presos
também, era uma puta responsabilidade.
Edson – Nesse futebol ele caçoava, brincava ou jogava sério?
Noé – Tinha que jogar sério contra os integralistas, era uma com-
petição contra os integralistas, era natação, futebol, vôlei, corrida e não
sei mais o quê. No futebol ganhamos, no vôlei ganhamos, na natação
ganhamos, graças a um companheiro que era campeão de natação.