marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 47

a aviação era tarefa reservada aos homens. Conseguiu emprego em
um escritório da Panair. Adiante, prestou concurso para a Aerovia do
Brasil e conquistou a vaga de aeromoça. O conhecimento da língua
inglesa foi importante para alcançar a nova função.^53 No Rio de Ja-
neiro o elo com o PC foi mais direto. A militante frequentava a célula
do Partido no Largo do Machado. Célula era o local de referência,
localizado em um bairro, ou local de trabalho, em que atuavam os
militantes do PC. O contato com Marighella foi acidental, se cru-
zaram casualmente na sede do Comitê Central, na Glória. Clara,
como era aeromoça, ia algumas vezes à sede do Partido, na Glória,
recolher correspondências. O contato com Marighella, que para ela
era um desconhecido, se resumiu numa troca de olhares. Não seria
tão simples passar desapercebido um mulato de um metro e noventa
de altura olhando em sua direção. O estreitamento se realizou quando
o Partido Comunista organizou a Assessoria Parlamentar Coletiva,
que assistiria aos deputados comunistas eleitos para a Constituinte
de 1946. Clara integrou essa Assessoria, que era comandada por
Marighella. O romance surgiu nesse ambiente de trabalho, onde os
dois se apaixonaram.^54
Ela foi flagrada por um conhecido de seu pai vendendo jornal
do Partido Comunista pendurada num bonde, na cidade do Rio de
Janeiro. Não era uma burocrata do Partido. A partir daí algumas
tensões começaram a surgir em relação a seu pai. O casual espião
enviou uma foto para o Recife. O temor de que a filha fosse presa fez
com que Gdal se deslocasse para o Rio de Janeiro e pressionasse a filha
para que retornasse com ele. Como o PC teve seu registro cassado
em 7 de maio de 1947, a cassação dos mandatos dos comunistas
seria uma questão de tempo e logo a repressão acirraria os ânimos.
Clara se refugiou na casa do ex-deputado comunista José Maria


(^53) Depoimento de Clara Charf colhido por Emiliano José em 20.07.1996.
(^54) Idem.

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