marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 49

Clara descreve Marighella como um homem alto, de porte atlé-
tico, cabelos crespos, lábios grossos, nariz meio adunco, com mãos
grandes e gesticulação acentuada ao falar. Ela destaca que o marido
sempre procurou manter-se fisicamente em boa forma, mesmo nos
momentos de clandestinidade. Os exercícios físicos eram um dos
hábitos preferidos de Marighella. Nos momentos de maior liberdade
política gostava muito de caminhada, sempre que podia caminha-
va, essa foi uma inclinação marcante em sua trajetória. Relatos de
companheiros de Marighella atestam que o baiano gostava muito de
doces. Nos tempos difíceis de clandestinidade, em São Paulo, entre
1937 e 1938, ele percorria distâncias enormes, evitava a condução,
guardando o dinheiro para comprar doce. Como parlamentar, no
Rio de Janeiro, uma década depois, Marighella preferia fazer a pé o
percurso entre o Palácio Tiradentes – na Praça XV – e o escritório
parlamentar dos comunistas, situado na Avenida Rio Branco.^56 Além
da caminhada, a dedicação aos exercícios físicos foi uma tônica bas-
tante presente em seu cotidiano. Nos momentos de clandestinidade
procurava fazer exercícios em casa mesmo. Como não havia recursos
disponíveis para a aquisição de instrumentos, Marighella improvisa-
va. Pegava duas latas de leite em pó, enchia de cimento, atravessava
um cabo de vassoura entre as latas e pronto, já possuía o necessário
para manter sua forma física.^57 Em outra oportunidade, na segunda
metade da década de 1950, Marighella aparecia em casa com algo
semelhante a um remo. Simulava uma situação de remador e, em
paralelo a atividade, aproveitava o tempo para aprender inglês. Àquela
época saíram os primeiros discos em inglês, ele aproveitava o tempo
“remando” e ouvindo os discos para aprimorar o idioma.
De fato, o interesse por atividades físicas pode ser notado em
algumas fotos de Marighella. No episódio em que resistiu à prisão,


(^56) Cf. depoimento de Clara Charf.
(^57) Idem.

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