marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
60 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

correr a certos aspectos da história de vida que se afastam da intenção
de aplicar ditirambos sobre o personagem.
Marighella é apenas um exemplo, jamais imune a críticas. Car-
los Marighella também é um exemplo que encerra uma tendência
estereotipada da análise sobre a militância dos comunistas. É um
personagem que tem em sua trajetória política uma marca especial
pela inserção na guerrilha urbana. Cria-se daí um componente enri-
quecedor de discussão, através do personagem e sua trajetória política,
sobre a própria questão envolvendo a luta armada, não ofuscando a
sua trajetória dentro do PC. Entretanto, a vida pública pode, muitas
vezes, ser utilizada para rotular. Os interesses podem variar. No caso
de Carlos Marighella, a ditadura militar tentou a todo custo ofuscar
uma trajetória de acertos e de erros, sempre procurando associar a
figura do personagem ao que se chamava de terror: a luta armada.
“Marighella, o chefe do terror”, era a expressão favorita. A linearidade
da vida pública, muitas vezes exigida em demasia na análise de aspectos
do cotidiano, tinha a intenção de divulgar uma imagem negativa do
personagem. Algo como se o “chefe terrorista”, em sua trajetória de
vida, não fizesse outra coisa a não ser estar voltado exclusivamente
para a revolução comunista. Essa linearidade criou a falsa imagem
de um indivíduo mecanizado em relação à revolução. Ao analisar o
cotidiano do personagem, podemos verificar que o militante comu-
nista, o “chefe do terror”, era uma pessoa comum, um simples mor-
tal, porém, determinado pela busca da liberdade do povo brasileiro.
Talvez o mero registro da trajetória de um revolucionário acabaria
por encobrir essa face oculta, humana e profundamente generosa do
homem Marighella.

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