marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
68 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

tado Novo, para alcançar legitimidade, “precisaria surgir como um
gesto de defesa da legalidade, isto é, precisava de respaldo político e
social”.^83 Para tanto foi forjado o Plano Cohen, pelo então general
Olímpio Mourão Filho. Tal plano “previa” uma insurreição comunista
no país. O nome Cohen procurava dar um caráter de complô inter-
nacional, nome do suposto autor do documento. A farsa orquestrada
por Olímpio Mourão e denunciada em 30 de setembro pelo Ministro
da Justiça, Eurico Gaspar Dutra, serviria de base para a decretação
do estado de guerra, em 1º de outubro. Suspendeu-se as garantias
constitucionais por 90 dias e em 10 de novembro o país mergulhou
na ditadura do Estado Novo.
De 1937 a 1939, Marighella viveu clandestino em São Paulo. A
clandestinidade foi uma tônica presente na vida do personagem. A
vida clandestina, e não só de Marighella, mas de vários militantes do
PC, bem como de outros militantes no período do regime autoritário
iniciado em 1964, é um capítulo para ser mais bem conhecido na
história do país. Ninguém entra na clandestinidade porque deseja,
o que em princípio parece uma evidência incontestável. Entretanto,
no caso específico de Marighella, a imprensa da década de 1960,
quando se referia a sua trajetória no Partido Comunista, não media
consequências. Vejamos: “Marighella já foi do Grupo de Pistoleiros
‘Comando Suicida’ do Partido Comunista, formado por seus mem-
bros mais audazes, especializados em missões quase impossíveis”.
Ou ainda: “Quem é Carlos Marighella? É um baiano de 40 anos de
comunismo, acostumado a clandestinidade”.^84 Inverte-se a prioridade
na tentativa de caracterizar uma imagem negativa do personagem:
clandestinidade não é um costume optativo, ela é imposta pelas con-
dições de determinado período, ou é a clandestinidade, ou a prisão
com torturas. Deve, portanto, ser contextualizada para que se tenha


(^83) PENNA, Lincoln. Op. cit., p. 204.
(^84) O Estado de S. Paulo, São Paulo, 05.11.1969, e Jornal da Tarde, São Paulo, 23.11.1968.

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