76 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
A participação de Carlos Marighella no Congresso Nacional foi
marcada por grande número de discursos. Foram 195 em dois anos
de mandato. Mas, a intensidade com que o deputado atuava no
Congresso Nacional não o tornara um burocrata da política. Os co-
munistas tinham uma assessoria parlamentar com a função de auxiliar
os deputados na elaboração de seus discursos no Parlamento. Era uma
única assessoria para todos os deputados do Partido Comunista, ali
eram pesquisados todos os assuntos a serem abordados no Congresso,
funcionários das mais variadas funções se revezavam no trabalho de
assessoria. Não existia uma assessoria particular para cada deputado,
como vigora hoje. Marighella era o responsável pelo trabalho da as-
sessoria. Clara Charf foi trabalhar nessa assessoria quando o Partido
já tinha o seu registro cassado. Clara expressa a atuação de Carlos
Marighella no Congresso como um deputado que não era de gabine-
te. Era o tipo de deputado que mantinha contato com a população,
conforme é atestado pela existência de fotos que registram Marighella
sentado numa linha de trem conversando com ferroviários, o que,
em princípio, não era um fato comum entre os deputados. Era um
porta-voz das reivindicações mínimas e máximas dos trabalhadores e
do povo em geral, recebendo cartas e denunciando as injustiças sociais
por que passavam. Clara ressalva que isso não significa que ele fosse o
único deputado a apresentar-se dessa maneira. Quanto aos discursos
pronunciados no Congresso Constituinte, Marighella possuía uma
velocidade muito grande ao falar, parecia uma metralhadora. As taquí-
grafas, muitas vezes, não conseguiam registrar certos trechos de seus
pronunciamentos, sendo comum após as sessões requererem junto ao
deputado Marighella possíveis correções ou inclusões desses trechos.
Clara Charf manifesta ainda o conteúdo dos discursos de Marighella
pautado na contestação e nas reivindicações dos trabalhadores, em que
o deputado lia telegramas denunciando e levando ao conhecimento
do Plenário as mais diversas situações e irregularidades. Numa sessão
em 2 de abril de 1947, Carlos Marighella discursou sobre a ordem de