VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA Nº 6

(MARINA MARINO) #1
Capítulo 6: A

brasileira Zenaide

Caminhar descalça pela praia é,


sem dúvida, a atividade preferida de
Zenaide. Gosta de sentir o calor e a
texturadaareianassolasdospés,gosta
aindamais quandoos péssãolavados
pela onda que chega leve e tranquila.
Poderia ficar ali por horas, sentindo
aquelaliberdade,oventonorosto,não
fosseoexcessodetrabalhoquetem.
Zenaide é cozinheira de mão
cheia, como dizem. Tem um pequeno
restaurantepertodaorla,ondeoferece
uma boa caldeirada de frutos do mar
que já é famosa na região, além dos
pasteizinhosdequeijoqueservecomo
aperitivo.
Ela mesma cozinha com uma
ajudante.Olocalépequeno,temquatro
mesas, sempre arrumadas com uma
toalhaxadrezvermelhaebrancaeum
vidro de pimenta para quem quiser
temperarmaisacomida.
Desde menina adorava cozinhar.
Aprendeu com a avó quituteira, que
sustentava a família com pasteis e
bolinhos de arroz. A avó vendia os
quitutes no bairroonde moravam, em
Niterói,num pesadotabuleiro,que ela
mesma carregava, até o ponto de
ônibus. Conforme foi crescendo,
Zenaidecomeçou a ajudar a avó e se
encantoucomoofício.


Quando a avó morreu, ela
resolveuseguiromesmocaminho,já
que sua herança foram as boas
receitas.Assimquepode,alugouuma
pequenacasaondefez orestaurante
na sala da frente. Mas, como tinha
espaço,resolveu criar umbrechó no
fundodoquintal, nocomeçoparase
desapegar das coisas que a avó
deixou,mascomotempoobrechófoi
se mostrando um lugar muito
especial,umlugardeboaconversae
demuitaajuda.
Depoisdeumpastelzinhoeum
copodelimonada,queméquenãose
abriria para contar as tristezas e as
alegrias? Quem é que não se
acalmariaecomeçariaafalar?Oque
estivesse na alma, logo sairia para
fora e encontraria os ouvidos da
Zenaideparadesabafar.
Muitos problemas foram
resolvidos ali, nos fundos do
restaurante.Mulheresseesconderam
de maridos violentos, meninas se
protegeram derapazes torturadores,
famíliasseesconderamparafugirde
chefesdefacçõescriminosas.
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