Adega - Edição 183 (2021-01)

(Antfer) #1

78 |^ Revista ADEGA -^ Ed.183


Pureza e


raridade de


Chambertin
A essência dos vinhos do Domaine Armand
Rousseau, ícone de Grevrey-Chambertin

por Arnaldo Grizzo


DEPOIS DA II GUERRA MUNDIAL, alguns
produtores da Borgonha foram persuadidos a
enriquecer seus vinhedos com potássio, pois


  • segundo os vendedores desses “adubos” – a
    terra teria sido negligenciada durante os longos
    anos de batalha e precisava desse suporte
    para dar mais vigor às videiras e aumentar
    a concentração de açúcar nas uvas. Armand
    Rousseau foi um dos que acreditou nessa
    conversa e comprou toneladas de potássio para
    jogar em suas propriedades.
    Isso seria um dos maiores erros de Armand,
    que criou o Domaine Armand Rousseau ainda
    no início do século XX após herdar lotes de
    vinhedos em Gevrey-Chambertin. Ele era
    descendente de uma família de pequenos
    proprietários composta principalmente por
    viticultores, tanoeiros e comerciantes de
    vinho. No início, Armand comercializava seus
    vinhos a granel para comerciantes regionais.
    Depois, adquiriu novos lotes de vinhas de
    maior prestígio, como Charmes-Chambertin,
    Clos de la Roche e Chambertin. Então decidiu
    engarrafar seus próprios vinhos e vender
    especialmente para donos de restaurantes, com
    ajuda do influente Raymond Baudoin, fundador
    da Revue du Vin de France.
    Foi logo após 1945, quando seu filho Charles
    saiu da universidade e passou a ajudar o pai


na administração do negócio, que Armand
introduziu o potássio, que acabou sendo
prejudicial para suas vinhas, pois as raízes
ficaram saturadas e, com isso, diminuíram a
acidez natural da uvas e, consequentemente, do
vinho. Eric, neto do fundador e hoje o principal
gestor do domaine, diz que levou mais 20 anos
para reequilibrar o solo.

Sem químicos?
Em 1959, Armand morreu em um acidente
de carro enquanto voltava de uma caçada.
Charles então assumiu o controle e continuou
aumentando as terras ao comprar especialmente
vinhedos Grand Cru em locais como Clos
de Bèze, o monopólio Clos des Ruchottes e
novamente vinhedos de Chambertin. Ele
também passou a exportar cada fez mais, tanto
que atualmente o domaine vende cerca de 75%
de sua produção anual de aproximadamente
63 mil garrafas (divididas em 11 rótulos apenas)
para o exterior. A maioria do que sobra em
território francês vai para restaurantes.
Em 1982, Eric, seu filho, juntou-se à equipe
após concluir estudos no Lycée Agricole
et Viticole de Mâcon Davayé e um ano de
especialização em enologia na Universidade de
Dijon. E foi ele o responsável por definir uma
visão “natural” para os vinhos do domaine.

GRANDS
DOMAINES
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