Aero Magazine - Edição 320 (2021-01)

(Antfer) #1

que atracou no Rio de Janeiro
três dias depois. Ainda que o
desembarque tenha ocorrido
de madrugada, muitas pessoas
estavam à espera do aviador,
que foi calorosamente recebido.
Depois de todos seguirem para
o Palace Hotel, em Copacabana,
onde Chaves ficaria hospedado
por conta do aeroclube brasileiro,
ele ainda deu diversas entrevis-
tas. A um redator do jornal A
Rua, declarou: “A minha carreira
de aviador de longo curso está
terminada. Posso afirmar-lhe que
nem ao Rio virei mais por via
aérea. Vou para São Paulo cuidar
da minha escola e a ela dedicar-
-me inteiramente”.
O mecânico Thierry só partiu
da Argentina de volta para o
Brasil no dia 13 de janeiro, a
bordo do “Limburgia”. Na mesma
data, Edu Chaves viajou de trem
do Rio de Janeiro para São Paulo,
bem cedo. Foi acompanhado,
nessa viagem, por Amadeu da
Silveira Saraiva (1889-1987),
representante da Liga Nacionalis-
ta de S. Paulo, que viria a ser, em
1970, o primeiro biógrafo dele, ao
publicar o opúsculo Biografia do
piloto aviador Edu Chaves.
Quando o comboio deu
entrada na Estação da Luz,
às 08h50, deflagrou-se uma
estrepitosa e interminável salva
de palmas, acompanhada de
vivas entusiásticos ao campeão
sul-americano, a São Paulo e
ao Brasil. Bandas de música
tocaram, Edu Chaves foi carre-
gado em triunfo e, ao chegar ao
patamar da escadaria da estação,
foi saudado pelo advogado Plínio
Barreto e pelo estudante Gamaliel
Pereira da Cruz, ambos muito
aplaudidos pelos discursos feitos.
Às 09h15, organizou-se um
cortejo, muito extenso, com o


carro que transportava Edu Cha-
ves à frente. Os populares subiam
no veículo, dificultando o avanço.
Mais de 500 automóveis acompa-
nharam o audaz piloto que, de pé,
no carro, sorria e acenava com o
boné. Das sacadas das casas eram
atiradas muitas flores, por vezes
apanhadas pelo herói do reide
Rio-Buenos Aires e levadas por
ele aos lábios.
Ao chegar ao landau em frente
ao Automóvel Clube, um forte
temporal caiu sobre a cidade. Nem
assim o povo desistiu de seguir e
aclamar o homenageado, deixado
em casa, à rua Sebastião Pereira.
Várias filmagens e fotografias
foram feitas dessas cenas gloriosas.

O RECONHECIMENTO
Em 20 de janeiro de 1921, a Liga
da Defesa Nacional realizou uma
sessão solene no salão do Flumi-
nense Football Club dedicada a
Edu Chaves, Afrânio Antônio da
Costa (1892-1979) e Guilherme
Paraense (1884-1968), todos cam-
peões desportivos, sendo os dois
últimos medalhistas na modalida-
de de tiro dos Jogos Olímpicos de
Verão de 1920, que tiveram lugar
em Antuérpia, na Bélgica. Aos três
foram oferecidos cartões de ouro
maciço, estando gravado, no de

Chaves, o telegrama que a Liga
passou quando ele aterrissou em
Buenos Aires: “A Liga da Defesa
Nacional congratula-se efusiva-
mente com aquele que ligou pelas
asas, símbolos de força que ascen-
de na liberdade, os corações das
Repúblicas Irmãs”. Compareceram
ao ato o presidente da República,
Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa
(1865-1942), ministros de Estado
e altas autoridades. O orador foi
o escritor Henrique Maximiano
Coelho Neto (1864-1934).
O aviador retornou a São
Paulo pelo noturno de luxo
em 23 de janeiro de 1921. Em
1º de novembro desse ano, ele
inaugurou oficialmente o aeró-
dromo de Guapira, a escola que
pretendia passar a dirigir. No dia
21 do mesmo mês, o Congres-
so Legislativo de São Paulo
autorizou o poder executivo do
estado a doar-lhe o aeroplano da
Força Pública utilizado no reide
Rio-Buenos Aires, mais a quantia
de 30 contos de réis. E a 7 de
dezembro, o presidente Epitácio
Pessoa assinou o decreto no 4.397,
concedendo-lhe 50 contos de réis
como indenização das despesas
que teve para realizar a prova.
Merecidas recompensas para
quem deu tantas glórias ao país.

Após pousar
no campo de
El Palomar,
Edu Chaves é
recebido em festa
por autoridades
brasileiras e
argentinas. O
Oriole foi o
primeiro avião da
Curtiss projetado
para o transporte
de passageiros
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