VIAJEMAIS^27por sua vez, serve invenções deli-
ciosas como o polvo com batata
doce e abóbora e as bochechas de
porco com castanha. Os quartos
também são de encher os olhos: es-
paçosos, bem iluminados, com ca-
ma king sizee vistas arrebatadoras.
Seguindo o que me pareceu o
scriptadequado para um dia de frio
em um hotel de montanha, despejei
os sais de banho na banheira e se-
lecionei uma playlistde jazz na cai-
xinha de som acoplada à parede do
banheiro antes de entrar na água
quente. A vida de paciente não devia
ser ruim por ali.
Com tantas mordomias, nada
mais justo que passar um dia sem
culpa na pousada. Mas a verdadeira
razão da viagem está lá fora. Dona
de maciços de granito e picos ne-
vados, florestas e lagoas, a Serra da
Estrela é a maior reserva natural de
Portugal. Tanto pelas dimensões do
parque quanto pela paisagem em
metamorfose constante – branqui-
nha no inverno; verdejante no ve-
rão – cabem ali muitas viagens di-
ferentes. A cada dia que passa é pos-
sível experimentar uma delas.
Por estar pertinho de Covilhã –
que junto com Manteigas e Guarda
é uma das bases para conhecer a re-
gião – comecei dirigindo até a Torre,
o ponto mais alto do parque, a
1.993 metros acima do nível do
mar e apenas 20 km do centro.
Confesso que minhas imagens men-
tais de Portugal não incluíam ne-
nhum cenário como aquele, coberto
de neve e com uma módica estação
de esqui aberta de novembro a abril.
Ainda embalada pelo ritmo su-
perlativo da viagem – o maior par-
que, a altitude mais elevada... –segui para Sabugueiro, a vila mais
alta de Portugal. São muitos os lu-
garejos sonolentos serra adentro
com as mesmas casinhas de pedra,
fornos comunitários e igrejinhas
bucólicas da vila. Numa linha mais
turística também merecem uma pa-
rada Belmonte, local de nascimento
de Cabral, Monsanto e Piódão, to-
das integrantes de um conjunto de
12 aldeias medievais lusitanas. Ou-
tro ponto comum entre todas elas:
muitas lojinhas para abastecer as
malas com queijo da Serra da Es-
trela, o queijo-creme regional feito
com leite de ovelha.
Um carro alugado é ideal para
tantas explorações. Sem contar que
as estradas da serra são parte da
atração: servem de mirante e apre-
sentam cenários alucinantes. Pela
janela do carro desfilam montanhas
que se dissolvem em vales, barra-
gens e cachoeiras. O trecho de Co-
vilhã a Manteigas – da beira ao cen-
tro do parque –, em especial, reserva
vistas belíssimas.
A Serra da Estrela é desses lu-
gares em que a estrada é também
destino. Infelizmente deixei para
trás muita estrada a percorrer, mas
era hora de seguir para a próxima
parada: Óbidos.A Pousada da Serra da
Estrela, em Covilhã: luxo nas
montanhas portuguesasFOTOS: DIVULGAÇÃOKARINHOCK