76
UM ABISMO NO MEIO DO CAMINHO
De um lado da estradinha, ma-
cieiras. Do outro, araucárias que,
depois de quase dizimadas e agora
protegidas por lei, crescem em bos-
ques recobertas por bromélias bar-
ba-de-velho. O 4x4 da Tribo da
Serra segue pelas estradas secun-
dárias de Bom Jardim da Serra até
a fazenda Santa Cândida. É ali que,
depois de calçar botas à prova
d’água fornecida pelos guias, co-
meça uma caminhada até o Cânion
das Laranjeiras.
As botas se justificam. Não é por
acaso que a região é chamada ca-
pital das águas. São muitos os ria-
chos e alagados no caminho. Che-
gar à beira do Cânion das Laran-
jeiras torna incontrolável o sorriso
aberto, e a vontade é encher o car-
tão de memória da máquina foto-
gráfica para nunca mais esquecer
o momento.
A cena é didática para entender
os cânions: a planície bucólica de
um lado, a fenomenal rachadura
que torna a paisagem bizarra, onde
se pode ver as várias camadas de
solo – a famosa coluna estratigráfica
que tanto agrada aos geólogos. Do
outro lado, novamente a paisagem
com araucárias.
Mas, como todo bela cena pre-
cisa de legenda, o guia Chico conta
a história dos tropeiros (sempre
eles) que subiam e desciam aquelas
paredes com animais e mercado-
rias e ganhavam laranjas dos raros
habitantes da serra. Por isso, o local
ganhou o singelo nome de Cânion
das Laranjeiras. Uma cachoeira
despenca no nada. Observo a cena
demoradamente e me afasto do
grupo para ficar em silêncio, em
reverência comovida à natureza.