Banco Central do Brasil
Revista Época/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central
Argentina de 2001 e na crise do Uruguai de 2002. É
imensurável a estupidez guediana.
O mais inquietante é que estejamos perdendo tempo
com isso enquanto morre gente. Lidamos diuturnamente
com pautas arcaicas, de um tipo de prática econômica
que padeceu no mundo inteiro. Trata-se não mais de
uma economia do sacrifício, mas de uma economia
sacrificial. O mundo ruma para moldar a economia a
desafios de saúde pública e meio ambiente. O mundo
se orienta, pouco a pouco, para o que se tem chamado
de economia do cuidado. Esse reposicionamento inclui
países como China, Rússia e Índia, ou seja, países que
hoje têm condições de vacinar boa parte dos
emergentes e dos mais pobres. O Brasil poderia ser
parte desse rol, se a orientação da política pública de
Bolsonaro fosse o cuidado, não a destruição. Mas dá-se
o contrário, e é importante que isso esteja claro.
Ele atua para a construção de um país em que os que já
eram tratados como seres humanos “inferiores”, dada
nossa estrutura colonialista, passem a ser tratados
como não cidadãos e não humanos. Constituição? Que
Constituição? A existência da Carta Magna não importa
para tipos como Paulo Guedes. Caso importasse, ele
não teria tido a audácia de falar em Estado mínimo.
Afinal, o tamanho do Estado foi pactuado pela
sociedade e inscrito na Constituição, que é como se faz
em uma democracia. O Brasil já não parece uma
democracia. Pior, o que é triste não é sequer a
constatação, mas o fato de que ela tenha se tornado
banal. Ela é hoje tão banal que há quem insista em
separar Bolsonaro de Guedes, talvez por preguiça,
talvez por desconhecimento, talvez por falta de
compreensão.
O bolsonarismo e sua necropolítica contam com isso.
Contam com a não percepção, com a definição
equivocada de que se trata de uma ideologia. O
bolsonarismo não é uma ideologia, é um mecanismo de
destruição e perseguição por meio da comunicação. Ele
opera nas construções que as pessoas fazem de
circunstâncias, para separar o que não é separável e
relativizar aquilo que não é relativizável.
Imagino Guedes. Imagino os apoiadores de Guedes.
Imagino os que vocalizam e os que calam. Imagino-os
na Sapucaí. Imagino-os cantando: “Diga, espelho meu,
se há na avenida alguém mais cruel que eu?”.
Monica de Bolle é Pesquisadora Sênior do Peterson
Institute for International Economics e professora da
Universidade Johns Hopkins
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