L.R. - O PROBLEMA ENTRE BRASIL E CHINA NÃO É
BOLSONARO
Banco Central do Brasil
Revista Época/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: LARRY ROHTER
Abri o jornal hoje e vi três manchetes alarmantes sobre
a China. “Um espaço virtual para debate entre chineses
desaparece”, proclamou uma matéria na primeira
página, sobre o fechamento de mais uma rede social
que o Partido Comunista considera perigosa. Na mesma
página interior onde terminava o artigo, encontrei “China
prende jornalista australiana como espiã”, que nem
precisa de explicação. E, finalmente, “Empreendedora
chinesa era modelo de sucesso até se aproximar de
críticos do Partido”, sobre o julgamento da dona de
editora que patrocinava encontros entre intelectuais,
dissidentes e ex-funcionários de alto escalão.
Imediatamente pensei na entrevista com o historiador
escocês Niall Ferguson, publicada em O GLOBO no dia
7, em que ele culpa Trump e Bolsonaro pelas recentes
tensões com Pequim. “O Brasil não ganha nada sendo
hostil à China”, vaticinou. “Não é difícil para o Brasil ser
um país não alinhado nesta nova Guerra Fria” entre
China e os Estados Unidos, “porque não precisa ser tão
próximo dos EUA para garantir sucesso econômico e
estabilidade política”.
Ferguson, professor na Universidade Stanford e porta-
voz de um conservadorismo tido como erudito, ganhou
certo renome quando previu a crise econômica mundial
de 2008. Mas também prognosticou que Donald Trump
não chegaria nunca à Casa Branca, elogiou a invasão
do Iraque em 2003, apoiou o Brexit e se diz favorável à
dissolução da União Europeia. E na entrevista para O
GLOBO sustenta que a situação do Brasil “é típica de
todos os países” do antigo Terceiro Mundo, como se o
Brasil fosse parecido com Angola ou a Tailândia.
Acho que ele está muito enganado. No caso de uma
nova Guerra Fria — ainda não estamos lá —, não seria
como a primeira. Duvido, por exemplo, que a Índia,
cofundadora do movimento dos não alinhados e alvo de
provocações chinesas ao longo de uma fronteira comum
de 3.488 quilômetros, ficaria neutra. Além disso, seria
travada tanto no espaço virtual como no físico, e países
neutros teriam menos margem de manobra. Por quê?
Porque a China não permitiria.