Banco Central do Brasil
Revista Isto É Dinheiro/Nacional - Negócios
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes
da campanha. Isso foi uma irresponsabilidade enorme.
Passamos o mês de dezembro e janeiro lidando com
esse problema, mas em fevereiro esse número
começou a cair. Isso mostra que não há relação direta
com bares e restaurantes. Estudo feito em Nova York
mostrou que apenas 1,44% das contaminações se
deram em bares e restaurantes.
O que o senhor está dizendo é que bares e restaurantes
não contribuíram para o crescimento da pandemia?
Nós não tivemos surtos entre funcionários e clientes no
País, o que demonstra que os protocolos estão sendo
eficazes. A grande maioria dos estabelecimentos
respeitou as regras. Claro que há quem desrespeite,
mas é um número muito pequeno. Com as novas
restrições, nós pegamos a juventude brasileira e a
empurramos para festas e baladas clandestinas. Nos
bares, há fiscalização, todo mundo acompanha. Tiramos
os jovens de bares e restaurantes, em um ambiente
relativamente protegido, e os levamos para eventos sem
fiscalização. É um erro fechar novamente bares e
restaurantes. Só fez sentido fechar no primeiro
momento, que tinha como principal razão ajudar a
aumentar ofertas de leitos em hospitais. Fechar agora
não faz a menor diferença nesse caso.
Como está a situação financeira desses
estabelecimentos?
Para se ter uma ideia, 99% das empresas estão no
regime do Simples Nacional. A prorrogação de seis
meses do imposto terminou em outubro, e a partir daí,
tivemos de pagar duas parcelas. Em dezembro,
precisamos pagar o 13º integralmente e fizemos uma
crítica forte ao ministro Paulo Guedes, que devolveu R$
17 bilhões dos R$ 51 bilhões liberados pela medida
provisória que ajudava o pagamento de salários e
permitia a suspensão de contratos, mas não ajudou no
pagamento do 13º. E em dezembro também começou a
vencer a carência dos empréstimos, como o Pronampe.
Nós chegamos ao fim de 2020 com duas em cada três
empresas do setor inadimplentes do Simples. Com todo
esse cenário, criou-se a tempestade perfeita.
Quantos bares e restaurantes fecharam as portas por
causa da pandemia?
Tínhamos 1 milhão de empresas em março, chegamos
em dezembro com 700 mil e devemos perder mais 100
mil ainda neste mês, fechando com 600 mil. O aumento
da alíquota de impostos, a partir de janeiro, impactou
demais. O imposto de carnes em São Paulo aumentou
90%, principalmente para as pequenas empresas. E
houve aumento na tributação do setor. Além de ser em
um momento tão fragilizado, põe uma carga de tributos
que alcança R$ 400 milhões. E agora o Estado oferece
linha de crédito de R$ 145 milhões. O Amazonas abriu
uma linha de empréstimo de R$ 140 milhões para um
mercado dez vezes menor que São Paulo. A gente vê
um ambiente muito ruim.
O faturamento caiu nessa mesma proporção?
Quando reabrimos, nossa receita estava em 40% do
ano anterior. Em outubro, crescemos para 70%. Em
estabelecimentos em áreas com população de baixa
renda, esse número foi maior, impactado pelo auxílio
emergencial. Tivemos realidades diferentes. Comércios
em grandes cidades foram atingidos pelo grande
volume de empresas que adotaram o home office. Em
geral, a gente fechou o ano com 35% menos do que
faturamos em 2019, que foi de R$ 300 bilhões.
Perdemos R$ 100 bilhões. Campo Grande nunca
fechou. Curitiba fechou por 18 dias. São Paulo, Rio de
Janeiro e Belo Horizonte foram impactadas por muito
mais tempo.
Mas não seria natural que as metrópoles fossem mais
atingidas, até por terem muito mais moradores?