Banco Central do BrasilRevista Conjuntura Econômica/Nacional -
Macroeconomia
terça-feira, 9 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - FMIextremos (outliers) como pontos fora do retângulo. Os
setores estão ordenados nos gráficos segundo a
classificação descendente da margem de lucro média
no período analisado; assim, o setor que possui a maior
margem de lucro média é o dos serviços auxiliares
financeiros (encontra-se à esquerda no gráfico 1), e o
que possui a menor média é, infelizmente, o dos
manufaturados de média-alta e alta tecnologia (à direita
no gráfico 3).
Notamos que os setores mais dinâmicos, por gerarem
mais encadeamentos produtivos, inovações, empregos
em quantidade e remuneração mediana na ampla
maioria dos países, quais sejam, manufatura e serviços
modernos, não se encontram entre os que possuem as
maiores margens de lucro em nossa economia. E não
podemos afirmar que é uma questão de tempo para que
isso ocorra, pois não há convergência entre as
margens; os dados de alguns setores apresentam forte
oscilação ao longo do período analisado (vide a altura
dos retângulos e a diferença entre os intervalos máximo
e mínimo).
Poderíamos então afirmar que a indústria é menos
rentável porque os empresários neste setor seriam
menos competentes; mas não me parece razoável nem
racional acharmos que ocorreria essa concentração
setorial de cérebros ruins ou um cluster distorcido.
Poderíamos também afirmar que este setor registra
resultados ruins justamente porque se acomodou
recebendo incentivos do governo; ora, se assim fosse,
ao receber os incentivos, as empresas gerariam, por
decorrência, ao menos resultados melhores que os
anteriores; mas o declínio da rentabilidade da indústria
pós 2013 é conhecido de todos. E, ademais, se
olharmos outros países, as indústrias também recebem
diversas formas de incentivo e nem por isso apresentam
os piores resultados relativos nas comparações
setoriais.
A manufatura brasileira, principalmente a de médio e
alto conteúdo tecnológico, não é um setor que usufrua
diretamente da abundância de recursos naturais como o
agronegócio; é mais exposta à concorrência externa,
sofrendo intensamente o ônus da apreciação cambial
acompanhada da redução de tarifas alfandegárias (que
eliminaram nosso antigo mecanismo de neutralização
da doença holandesa) e da carga tributária sobre a
produção (que também é relativamente maior para o
setor). O desrespeito a essas precondições inviabiliza
um retorno adequado para os investimentos e não será
a política industrial que compensará este ônus; essa foi
a situação brasileira na última década e uma das
principais explicações para a tal política ter gerado
resultados pífios. Os estímulos setoriais específicos
para a indústria só funcionam quando a casa, no sentido
macroeconômico e comercial, está arrumada.Assim, a política industrial não apresentará os
resultados desejados se desenhada isoladamente, ou
para compensar outros desequilíbrios. Há um conjunto
de fatores macro e microeconômicos que vão influir na
receita, despesa e lucro das empresas; uma
combinação adequada de juros baixos, taxa de câmbio
competitiva, estrutura tributária e tarifária adequadas,
investimentos em logística e infraestrutura, além de
acordos e a busca intensa de inserção comercial,
devem ser colocados em prática conjuntamente, ou
mesmo preceder, às políticas específicas de
desenvolvimento produtivo e tecnológico.Mas basta isso para a política industrial alcançar bons
resultados? Certamente não; ela tem que ser bem
desenhada e gerida, temporária e condicionada ao
alcance de resultados para que os benefícios sejam
superiores aos custos direta e indiretamente
associados. As políticas industriais recentes do período
2004-20141 não foram capazes de provocar uma
mudança estrutural profunda em direção a setores que
geram maior valor adicionado, inserir com melhor
qualidade nossa economia no comércio mundial e
colocar o Brasil definitivamente em um novo patamar
em seu processo de desenvolvimento. Uma estratégia
com essas pretensões demandaria, obviamente, ser
implementada consistentemente por um período muito