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Banco Central do Brasil

Revista Conjuntura Econômica/Nacional - Capa
terça-feira, 9 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Ministério da Economia

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Autor: Solange Monteiro


Esforço para mitigar aumento do contágio por Covid-19
cobrou mais do setor de serviços, que ainda vê
recuperação incerta em 2021


Há 16 anos, Irenildo Queiroz Lamoglia investiu em um
bar localizado em uma das travessas da praia de
Botafogo, na capital fluminense. Apostou no potencial
do ponto, próximo de escritórios de grandes empresas e
faculdades. O bom relacionamento com os clientes,
pelos quais é chamado de Bigode - apelido que dá
nome ao bar -, não só lhe rendeu o sustento nesses
anos, como um apoio solidário quando em 2020 teve de
suspender a atividade devido às medidas de isolamento
para conter a pandemia de Covid-19. “Os mais
chegados fizeram uma vaquinha e me deram R$ 12 mil
para ajudar nas despesas”, lembra Lamoglia, ainda
comovido. “Mas a grande maioria ainda não voltou,
mantendo- se com trabalho e aulas remotas. E o
faturamento, originado 30% de refeições e outros 70%
do movimento pós-expediente, tampouco se recuperou,
mesmo não havendo mais restrições quanto ao horário
de funcionamento”, lamenta.


A agonia de Lamoglia é compartilhada por muitos
empreendedores do setor de serviços, onde a
heterogeneidade da retomada da economia fica mais
evidente - tanto a medida pela distância do desempenho
dos serviços em relação a outros setores como indústria
e comércio, como entre as atividades do próprio setor.
De acordo à última Pesquisa Mensal de Serviços (PMS)
do IBGE, enquanto no acumulado do ano de 2020 até
novembro o agregado dos serviços registrava queda de
8,3% em relação ao mesmo período de 2019, nos
segmentos de alojamento e alimentação, por exemplo,
essa queda foi de 37,9% em igual comparação. Bares e
restaurantes, transporte aéreo, hotéis e transporte
rodoviário coletivo de passageiros lideraram os
destaques negativos apontados pelo IBGE, puxando a
recuperação econômica para baixo. No outro extremo,
beneficiado pelas medidas de isolamento, está o


segmento de informação e comunicação, que de acordo
à PMS foi o único dentro de serviços que em novembro
havia superado o nível de atividade pré-pandemia, em
2,5%, puxado pelos serviços de tecnologia da
informação, 10,4% acima, enquanto os serviços
prestados às famílias estavam 34,2% atrás do nível de
fevereiro de 2020. Silvia Matos, coordenadora do
Boletim Macro do FGV IBRE, ressalta as diferenças
entre o impacto da Covid-19 nesse setor em relação à
recessão de 2014-16, quando os serviços de maior
valor agregado - atividades de informação e
comunicação representam 19,3% do valor agregado do
setor de serviços e 8,2% da população ocupada - foram
mais prejudicados. “Desta vez, os serviços mais
eficientes foram preservados, enquanto os tradicionais,
menos produtivos, sofreram um choque incomparável”,
diz. Mas se na recessão anterior o mercado de trabalho
pôde responder mais rapidamente graças à dinâmica
dos serviços prestados às famílias - grande
empregadora e absorvente da demanda informal - desta
vez a extensão do impacto nesse setor, determinada
pelo descontrole no ritmo de contágio, poderá resultar
em um nível de desemprego mais persistente, afetando
toda a economia. “Do total da perda de emprego
registrada no ano passado, metade se concentrou nos
serviços”, diz Daniel Duque, pesquisador do FGV IBRE.

Rodolpho Tobler, analista da Superintendência Adjunta
de Ciclos Econômicos do FGV IBRE, responsável pela
Sondagem de Serviços, afirma que a confiança do setor
como um todo apresentou uma melhora marginal em
dezembro, mas voltou a cair na pesquisa de janeiro -
tanto na avaliação dos entrevistados sobre a situação
atual quanto em suas expectativas futuras e de
emprego previsto, como aponta a Carta do IBRE desta
edição (pág. 6). “A situação dos serviços prestados às
famílias - que além de alojamento e alimentação
incluem atividades como as recreativas e culturais e de
serviços pessoais, representando 10,9% do valor
agregado do setor de serviços e 22,6% da população
ocupada no final de 2020 - recuperou um pouco na
margem, mas havia caído bastante em dezembro,
especialmente por parte da demanda frustrada do setor
hoteleiro”, diz. Em janeiro, a confiança desse segmento
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