Viaje Mais - Edição 191 (2017-04)

(Antfer) #1

98 VIAJEMAIS


na bagagem


As histórias vividas pela redação


a Praia de nudismo


Por Tales azzi

A


partir deste ponto,
a nudez é obriga-
tória”, estava es-
crito na placa de madeira
fincada na areia. Eu estava
na Praia de Massarandu-
pió, no litoral norte da
Bahia, uma das poucas do
litoral brasileiro restritas
à prática do naturismo e,
portanto, acessível apenas
para quem não tem o pu-
dor de tirar a roupa em
público e ficar andando
peladão para lá e para cá.
Olhei em volta e não
vi ninguém, só a duna, um
trecho deserto de praia e
uma barraca rústica a uma
centena de metros adian-
te. “Quem tá na chuva...”,
pensei. Arranquei a camisa
e o shorts e dei os primei-
ros passos ao vento, feito
Adão no paraíso. Nisso,
um homem saiu da tal bar-
raca e veio correndo, aos
berros, na minha direção.
Era o fiscal da associação
de naturismo da praia,
responsável em não dei-
xar entrar nenhuma pessoa
vestida e, principalmente,
homens desacompanhados
(de mulheres). Mesmo pe-
lado, eu não poderia en-
trar. É a regra. Ok. Vesti o
shorts, agradeci ao sujeito
e fui embora.
Alguns anos mais tarde,

fui a João Pessoa para fa-
zer uma reportagem. Eu já
tinha ouvido falar maravi-
lhas sobre a beleza da Praia
da Tambaba e que também
tem seu trecho mais boni-
to reservado ao naturismo.
Quando cheguei à cidade,
aluguei um carro e fui até
lá. Novamente fui barrado.

O fiscal da Sonata (a Socie-
dade Naturista de Tamba-
ba), que fica no começo da
trilha que dá acesso à praia,
me proibiu de entrar pelo
mesmo motivo de antes: eu
estava sozinho.
Dessa vez, porém, eu
não desistiria facilmente.
Voltei a João Pessoa, liguei
para uma agência de mode-

los e contratei uma moça
para fazer uma sessão de
fotos na praia. Assim, eu
poderia não apenas garan-
tir a minha entrada, mas
também ilustrar a reporta-
gem que eu estava fazen-
do. É claro que ela achou
estranho, mas entendeu e
topou. E lá fomos nós.

Chegando na praia, o
fiscal, dessa vez, não criou
qualquer impedimento. Fi-
nalmente chegara a hora de
arrancar a roupa e tchan-
-tchan-tchan-tchan: pisar
pela primeira vez em uma
praia de nudismo. Deu
certo friozinho na barriga,
admito. Meio envergonha-
dos, com a sensação de que

todos estavam olhando,
mas fingindo naturalida-
de, seguimos caminhando
em direção ao bar onde os
frequentadores se concen-
travam. Lá sentamos para
uma cerveja e iniciamos
um bate papo para passar
o tempo. Por volta do ter-
ceiro copo, até me esqueci
que estava nu. A maioria
dos banhistas na praia
eram casais maduros, que
passeavam tranquilamen-
te pela areia. O ambiente
era bem familiar. Minha
companheira, aos poucos,
também relaxou e até foi
dar um mergulho no mar.
No final de tarde, fiz as
fotos. Algumas foram pu-
blicadas na revista, outras
foram para um livro sobre
praias brasileiras.
No total, passamos
cerca de duas horas em
Tambaba. Foi o tempo
para descobrir também
que existe uma curiosa
pousadinha, igualmente
naturista, na praia. É sim-
ples e sem luxo, como seria
de esperar de um lugar que
é feito para quem não liga
nem para roupas. Fui em-
bora com a certeza de que
a tal “nudez social” é até
divertido e não há razão
alguma para vergonha e
frio na barriga.


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