(20190200-PT) Exame Informática 284

(NONE2021) #1
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Lucília Monteiro


não é alcançado pela via comportamental. Numa
metáfora sem validade científica, seria possível
descrever este ato cirúrgico como uma intervenção
num chip de computador com o objetivo de maior
desempenho do software. «De uma forma simples
a estimulação é feita em função do “estado” em
que se encontra a atividade cerebral dessa mesma
região – a estimulação é feita quando se sente a
“atividade patológica”», refere o investigador do
Champalimaud, por e-mail.
Mais uma vez, a realidade tornou possível o que
antes era apenas uma possibilidade filosófica: No
limite, um elétrodo pode ser usado para simples-
mente “desligar” um cérebro. Ou limitar ou cortar
a iniciativa individual. O cenário é manifestamente
distópico – os implantes usados no tratamento de
doenças como Parkinson, epilepsia, ou até compor-
tamentos obsessivos-compulsivos podem revelar
uma eficácia sem precedentes a condicionar com-
portamentos lesivos ou indesejáveis, mas também
funcionam como portas para o mundo exterior.
Alimentados por dispositivos que se colocam sob
a axila, e que têm semelhanças no modo de funcio-
namento dos pacemakers, os elétrodos dos neu-
roimplantes distinguem-se por produzir resultados
positivos quando colocados em regiões do cérebro
relacionadas com «o reforço ou a recompensa»,
recorda Marcelo Mendonça. «Se algum “hacker”
conseguir aceder ao estimulador destas pessoas
pode “estimular estas regiões” quando a pessoa
faz um determinado comportamento que ele quer
reforçar – quando faz uma compra, por exemplo.
Isto vai aumentar a probabilidade de a pessoa repetir
este comportamento, e dessa forma manipular o
seu comportamento. O envolvimento de peritos de
cibersegurança no desenvolvimento destes disposi-
tivos será claramente o ponto maior a ter em conta à

medida que lentamente os vamos ligando à rede»,
lembra o investigador do Champalimaud.
Num relatório recente, a Kaspersky confirma que
o uso de neuroestimuladores é uma hipótese tecni-
camente possível para um futuro em que hackers
tentem simplesmente aceder às memórias alheias.
Na origem das vulnerabilidades, estará o software
usado por médicos para controlar os neuroestimu-
ladores: Ainda não há casos de ciberataque cerebral
conhecidos, mas «as fraquezas existem e não serão
difíceis de explorar», sublinha Dmitry Galov, In-
vestigador da marca russa, em comunicado.
A colocação dos neuroimplantes é feita de crânio
“aberto” com o paciente consciente, para poder dar
indicações sobre as reações produzidas, que evitam
efeitos indesejados. Um erro de um milímetro é
suficiente para produzir um resultado subótimo... ou
nefasto. João Paulo Cunha lembra o caráter ambiva-
lente da estimulação elétrica: atualmente há terapias
que usam eletrochoques para reduzir a agressividade
de doentes psiquiátricos, mas «também se sabe que
é possível induzir comportamentos violentos com
estimulação elétrica».

O CÉREBRO REGULA
Durante séculos, a medicina tentou moldar com-
portamentos ou tratar doenças neuronais através
de processos químicos (os medicamentos) ou com
sessões de educação comportamental (meditação,
terapias psiquiátricas). Até que a evolução tecno-
lógica tornou possível registar e medir sinais elé-
tricos ou padrões de funcionamento. O que abriu
caminho ao denominado neurofeedback – entre
outras tecnologias.
Para Francisco Marques Teixeira, o neurofeedback
está longe de ser uma novidade. Em 2012, o jovem
psicólogo que se especializou em neurologia no

FRANCISCO
MARQUES
TEIXEIRA,
PSICÓLOGO
E LÍDER DA
MUARTS, ESTÁ
A TRABALHAR
NUM NOVO
DISPOSITIVO
PARA
SESSÕES DE
NEUROFEEDBACK
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