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EDIÇÃO 300
para que o ano letivo de 2020/2021 arranque num regime
misto, que garanta que há de haver atividades presenciais com
condições de segurança, com distanciamento entre alunos e
professores, equipamentos de proteção individual, desinfeção...
O que é que se aproveita do ano letivo que termina no verão?
Há algum impacto devido à falta de vivência presencial, mas a
formação teórica e prática manteve a qualidade normal, dentro
do que era possível. Os docentes percebem que agora têm muito
mais trabalho a preparar aulas à distância. Os alunos, por seu
lado, dizem que os conteúdos disponíveis aumentaram... Mas
os alunos também sentem maior dificuldade para se concen-
trarem nas aulas. Ou porque têm um irmão mais pequeno a
brincar ao lado, ou porque faltam computadores em casa... isso
conduz a constrangimentos, mas este semestre não foi em vão.
Não se justificava uma repetição do semestre?
Não. Longe disso. Este semestre está totalmente ao nível da
qualidade de formação que temos de garantir. No caso das teses
de doutoramento, terá de haver um recomeço (do semestre),
mas não repetição; é algo que terá de existir, uma vez que não
tem sido possível aceder às instalações.
Algumas marcas de tecnologias chegaram a prever, em
tempos, a substituição de professores por sistemas de
inteligência artificial... Chegou a hora disso acontecer?
Se pegarmos em tecnologias, robôs e inteligência artificial
e bases de dados como uma adição ao trabalho do professor
- será excecional. É a existência dessas tecnologias que nos
diferenciam do século 18. Se essas tecnologias substituírem
o professor, será trágico. E não se trata de uma posição de
sindicalista. O ensino, seja em que área for, tem por princípio
de eficácia o elo entre professor e aluno. A empatia. O ensino
tem muito a ver com emoções. Se quiser explicar o teorema
de Pitágoras e se for um professor com que o aluno estabelece
ogério Colaço, presidente do Instituto Superior
Técnico (IST), enaltece a capacidade de adapta-
ção em tempos de pandemia, mas recorda que,
mais tarde ou mais cedo, as aulas presenciais
terão de regressar.
Será que as aulas voltam ao que eram antes da pandemia?
Houve uma mudança num período extraordinariamente curto.
Se há 2,5 meses, alguém me dissesse que, na semana seguinte,
todas as aulas do IST iriam funcionar em regime de tele-au-
las, diria que essa pessoa não estaria bem, mas a verdade é
que desde há dois meses que funcionamos exclusivamente
em tele-aulas. Adaptámo-nos num período extremamente
curto, porque felizmente existem tecnologias – e as pessoas
conhecem-nas. A resposta científica à sua questão é: não
sei, e ninguém sabe o que vai acontecer a seguir. O receio e a
garantia de condições de segurança para atividade presencial
faz com que seja previsível que, pelo menos num horizonte
que se consegue imaginar, de um ou dois anos, o regresso ao
ensino seja feito em regime misto.
Por que é que refere “um horizonte de um ou dois anos”?
A única coisa que dará segurança nas relações presenciais está
condicionada à existência de uma vacina, porque a imunidade
de grupo é uma coisa que não é mensurável de forma globali-
zada... e possivelmente produz muitas baixas. Portanto, tudo
isto está condicionado à existência de uma vacina ou de uma
medicação eficaz e isso pode exigir um ano, ano e meio, dois – se
tudo correr bem. Por que não mantermos todos em tele-aulas
durante dois anos? A razão para o não fazer é a seguinte: a
vivência dentro da Universidade é indispensável na formação.
Essa vivência pode ser suprida por um período curto, durante
um ou dois semestres, sem ter impacto significativo, mas não
pode ser suprimida de forma permanente. Estamos a trabalhar
O PROFESSOR
INSUBSTITUÍVEL
Cursos para estrangeiros, formações intensivas, e uma grande
sala de exposição aberta à comunidade. Naquela que é uma das maiores
fábricas de ministros do País, chegou a hora de pensar no pós-Covid-19.
O que pode significar um prazo de “um ou dois anos”
ROGÉRIO COLAÇO
Tex t o Hugo Séneca Fotos Luís Barra