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VISIONÁRIOS
MARIA HELENA
BRAGA
Quando foi para os
EUA, Maria Helena
Braga conhecia John
B. Goodenough dos
compêndios que o
apontavam como
“pai científico” das
primeiras baterias de
iões de lítio. Depois
do trabalho efetuado
entre a Faculdade
de Engenharia da
Universidade do Porto
(FEUP) e laboratórios
americanos, surgiu
a oportunidade de
conhecer o mítico
investigador, que foi
laureado com o Nobel da
Química aos 96 anos de
idade. Foi com o apoio
do cientista americano
que a investigadora
nortenha anunciou ao
mundo uma bateria de
iões de lítio com um
eletrólito sólido (de
vidro). Este “ovo de
colombo” energético
não só promete abrir
caminho a baterias
mais baratas, como
impede a formação de
dendrites que estão na
origem das explosões.
O projeto está em fase
de desenvolvimento
- mas Maria Helena
Braga não desperdiçou
a oportunidade de
dar a conhecer mais
uma inovação: o
desenvolvimento de
um novo conceito
de baterias que se
autocarregam através
da combinação da
capacitância negativa e
da resistência negativa.
Dizem os americanos que tão certo
como a morte é o pagamento de
impostos. Curiosamente, os próprios
americanos poderão ser chamados a
confirmar o ditado pelo mundo fora
com o pagamento de impostos em
diferentes países onde fazem negócios
com plataformas digitais. Na Europa, a
batalha fiscal já está em curso, com a
aplicação da denominada Taxa Digital.
E nem as relações privilegiadas com os
EUA impediram o liberal Reino Unido
de avançar com uma taxa de 2% aos
negócios das grandes plataformas
americanas. Depois de vários
Estados-Membros avançarem com
aplicação de taxas digitais, o plano
orçamental desenhado pela Comissão
Europeia para 2021-2027 passou a
contemplar essa política como forma
de diversificação de receitas.
A essa proposta (as políticas fiscais
são um direito exclusivo dos
Estados-Membros) junta-se a defesa
de taxas para as transações eletrónicas
e ainda as criptomoedas. Com a
diretiva europeia contra a lavagem
de dinheiro, Bruxelas gerou ainda
pressão adicional para a aplicação de
taxas às mais-valias geradas pelas
criptomoedas. Além de evitar as fugas
fiscais, esta medida pretende evitar a
perda de preponderância das moedas
convencionais. O Governo português fez
saber que iria esperar pela Comissão
Europeia para decidir sobre a aplicação
de taxas digitais, mas está atrasado
com a transposição da diretiva contra a
lavagem de dinheiro. No resto da UE, há
mais casos de discrepância fiscal – mas
se alguma vez houver um bloco uniforme,
é provável que noutros continentes
sejam tomadas medidas similares para a
aplicação de taxas aos negócios digitais
de empresas europeias. Toda esta lógica
fiscal poderá vir a ser exponenciada se
alguma vez for aplicada às mais-valias
do trabalho de robôs, para efeitos de
redistribuição de riqueza e viabilidade
financeira da segurança social. H.S.
Entre 21 milhões e 26 milhões de
pessoas suportam hoje a atividade
de mais de 7,5 mil milhões de humanos.
A função destes profissionais nem
sempre é notória – mas basta pegar
num telemóvel, aceder à Net
ou escrever um texto num computador
para compreender que, sem
programadores de software, a vida
seria mais complicada. Segundo o índice
Tiobe, C é a linguagem de programação
mais usada em 2020, com mais de 17%
de quota de mercado, (C, Java, Python,
C++ e C# compõem o top 5). Tendo
em conta a crescente informatização
e robotização, são cada vez mais as
vozes que defendem a universalidade
da programação, através de dois
caminhos: 1) inclusão de uma disciplina
de programação no ensino básico;
2) ou programação de software com a
linguagem com que falamos diariamente.
José Tribolet, presidente do INESC,
admite que as necessidades de
mão-de-obra mais prementes possam
ser superadas com a reconversão
profissional: “Teremos de montar
fábricas de formação intensiva para as
pessoas. Seis meses depois de entrarem
nessas fábricas, as pessoas saem de lá
como programadores. Em seis meses,
poderíamos formar três mil ou quatro
mil programadores. Bastava juntarmos
as universidades e os politécnicos para
darem essa formação”. A reconversão
profissional supera a contingência,
mas não cria uma solução estrutural.
Arlindo Oliveira, antigo presidente
do Instituto Superior Técnico, lembra
propostas como a da Associação para
o Ensino da Computação (Ensico.
pt) que exortou o Governo a criar uma
disciplina de computação no ensino
básico. A simplificação das linguagens
de programação é outro dos caminhos
evolutivos – mas poderá ser mais moroso.
“Começou-se na linguagem-máquina,
passou-se para o Assembly e depois
para o C e para outras coisas,
mas ainda há uma grande distância
da nossa linguagem natural. Os sistemas
terão de se tornar muito inteligentes
para serem capazes de converter a
nossa linguagem natural e informal numa
linguagem de programação que é formal”,
refere Arlindo Oliveira. H.S.
OS BITS
PAGAM IMPOSTO
PROGRAMAR
COMO QUEM FALA