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e as levaram a seguir outra paixão. Notamos uma motivação
muito diferente relativamente a um recém-licenciado. Vêm
com uma maturidade e energia diferentes, querem mostrar que
estão ao mesmo nível dos colegas”, explica. Há outras dezenas
de tecnológicas que também recrutam, assim que estão dis-
poníveis, profissionais requalificados, mas o envolvimento da
Critical Software vai mais além: a empresa apoia diretamente
três iniciativas de requalificação – Acertar o Rumo, Apostar
em TI e o já referido Switch –, o que também a coloca na pri-
meira linha para receber os novos programadores. Apesar de
os cursos de requalificação serem como uma nova ‘fonte’ de
mão-de-obra, os números de pessoas formadas ainda é limitado
e mesmo assim não chegam para dar vazão à grande procura
que tem havido. “Estamos a reduzir o desemprego nas outras
áreas, não é só criar emprego, tem este duplo efeito. Gostava
que as universidades formassem mais pessoas de engenharia
informática, mas não iria deixar de apostar nos requalificados.
São os dois imprescindíveis”, sublinha Nuno Vaz Santos.
SALÁRIOS DE SONHO NUMA INDÚSTRIA COM FUTURO
Como se o emprego quase garantido não fosse já um indicador
convidativo para os que procuram aprender a programar, a
remuneração faz o resto da sedução. O salário base médio de
um trabalhador português ultrapassou, pela primeira vez, a
barreira dos 1000 euros em março, segundo dados do Instituto
Nacional de Estatística (INE). E os salários tecnológicos são dos
que têm ajudado a ‘puxar’ este valor para números maiores.
Segundo dados da empresa de recrutamento tecnológico Lan-
ding.jobs, um programador front end ganha, em média, 20
mil euros brutos anuais logo no início de carreira. Se já tiver
seis anos de experiência, o valor aumenta para uma média de
32 mil euros brutos anuais. Num estudo apresentado em abril
pela startup portuguesa, uma das conclusões era justamente
a bitola quase garantida dos 20 mil euros brutos como um
salário médio base para quem quiser trabalhar na área tecno-
lógica. Mas existem muitas outras funções que garantem um
valor ainda mais tentador: um cientista de dados chegado ao
mercado ganha quase 23 mil euros anuais e com seis anos de
experiência já leva quase 40 mil euros para casa. O estudo,
que contou com a participação de mais de 2500 profissionais
do mercado tecnológico em Portugal, revela ainda que 3,2%
dos respondentes já são pessoas oriundas de iniciativas de
requalificação profissional. E segundo Pedro Oliveira, diretor
de operações da Landing.jobs, este valor tem tendência a au-
mentar. “É capaz de duplicar em dois ou três anos”, adianta.
E um ‘requalificado’ recebe o mesmo do que um licenciado?
Na Critical Software sim. “A partir do momento em que os
contratamos, os salários são idênticos às pessoas que já estão
na empresa. O que pode haver depois são evoluções diferen-
tes”, explica Nuno Vaz Santos. Mas apesar de esta postura
ser a nova norma no mercado, Pedro Oliveira alerta para o
facto de os profissionais requalificados ainda encontrarem
alguma discriminação quando batem em algumas portas. “O
estigma existe, há dois ou três anos existia com muita força,
mas sinto que tem vindo a diminuir e os números também
comprovam. Acho completamente ridículo. Traz diversi-
dade às equipas de engenharia e de tecnologia ter pessoas
com diferentes históricos”, atira. Álvaro González, diretor
da Ironhack em Portugal, uma das principais empresas de
requalificação tecnológica, dá um exemplo: pessoas forma-
das em antropologia e psicologia têm tido sucesso nas áreas
de interface e experiência de utilizador (UI/UX) justamente
graças ao conhecimento prévio que traziam.
MAIS PROGRAMADORES A CAMINHO
Entre os cursos da Porto Tech Hub (77 já formados, 52 em for-
mação), Academia de Código (830 formados desde 2014, total
de 400 previstos para 2020), Ironhack (148 em 2019, projeção
NUNO VAZ SANTOS EXPLICA QUE ALÉM
DE APOSTAR NA CONTRATAÇÃO DE PESSOAS
REQUALIFICADAS, A CRITICAL SOFTWARE TAMBÉM
APOIA OS FUNCIONÁRIOS EM MESTRADOS.
“UM DOS CRITÉRIOS É A COMPLEMENTARIEDADE
COM A FORMAÇÃO QUE A PESSOA JÁ TEM”
O SITE DA LANDING.JOBS TINHA, NO INÍCIO
DE MAIO, PERTO DE 1000 VAGAS DE TRABALHO
TECNOLÓGICO. “NO PASSADO APRENDÍAMOS UMA
VEZ E ÉRAMOS AQUILO QUE APRENDÍAMOS,
ERA PARA A VIDA TODA. ESSE PARADGIMA
MUDOU”, ALERTA PEDRO OLIVEIRA