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DETRITOS QUE
SÃO PRODUTOS
Com o processo desenvolvido
pela AgroGrin Tech, é possível
transformar detritos de frutos e
vegetais em três subprodutos:
farinhas alimentares para
animais ou que podem ser
adicionadas às farinhas
refinadas usadas na culinária;
sumo em pó que pode ser
usado como aromatizante ou
elemento de pigmentação;
e, por fim, um subproduto
resultante de um precipitado,
que consoante a matéria-prima
em causa pode conter enzimas,
proteínas ou antioxidantes
previamente identificados
como tendo elevado valor
comercial. Enquanto os dois
primeiros subprodutos poderão
apresentar variações no que
toca à qualidade, ao aroma ou
aos destinatários, o terceiro
apresenta maior variação no que
toca à função que poderá ter
para as diferentes indústrias.
Bastam três horas para
produzir detritos “frescos” e não
desidratados. O processo de
obtenção dos três subprodutos
desidratados demora cerca de
48 horas. Eis três exemplos
de precipitados que é possível
obter através de detritos
de três frutos conhecidos:
CASCAS E CENTROS
DE ANANÁS
Enzima bromelaína, que
pode ser usada como suplemento
alimentar com propriedades
anti-inflamatórias,
anticoagulantes e que
ajudam à digestão.
MAÇÃS COMPLETAS
OU APENAS A CASCA
Antioxidante floridizina,
com elevado valor para uso
em cremes antienvelhecimento
da pele.
CASCAS DE LARANJA
Vitamina C que pode ser usada
na indústria cosmética, ou como
aditivo que evita a oxidação de
sumos e frutas, ou que ajuda a
amaciar a carne ou peixe.
permite comercializar sumos de ananás
que são feitos com cascas, mas permite
usar este tipo de sumo em determinadas
proporções misturadas com o sumo de
(polpa de) ananás. Terão de ser feitos
testes sensoriais para se saber qual o grau
de aceitação do consumidor”, refere a
líder da AgroGrin Tech.
De acordo com a startup nortenha, com
uma produção anual de 385 toneladas é
possível produzir 21 toneladas de sumo
em pó, 20 toneladas de farinha alimen-
tar e meia tonelada de precipitado que,
consoante o fruto ou o vegetal em causa,
é composto por enzimas, proteínas ou
antioxidantes de elevado valor comercial.
A desproporção entre os detritos iniciais
e o volume de detritos já processados de-
ve-se à desidratação. “Ao extrairmos a
água aumentamos o prazo de validade dos
produtos, reduz-se o volume do composto
transportado, e conseguimos produzir um
produto em pó que costuma ter mais valor
de mercado. Sem a água reduzimos ainda
a probabilidade de culturas de microrga-
nismos e oxidação, sem afetar a qualidade
nutricional”, frisa Débora Campos.
A AgroGrin Tech estima que o investi-
mento exigido para um cenário de pro-
dução de 385 toneladas de detritos possa
ronda os 500 mil euros. O valor pode
funcionar como barreira para empresas
menos abonadas, mas também pode-
rá gerar uma nova fonte de receitas de
cerca de um milhão de euros no final de
um ano, estima Ana Vilas Boas, diretora
de marketing da AgroGrin Tech: “Cada
vez mais as empresas têm de pagar pelo
transporte e tratamento de resíduos.
O que significa que este método pode
revelar-se vantajoso porque permite
transformar resíduos que implicam cus-
tos de tratamento em subprodutos que
geram receitas”, acrescenta a diretora
de Marketing. Hugo Séneca
Desenho gráfico que ilustra o processo de transformação de detritos
derivados de frutas e vegetais, que foi desenvolvido pela AgroGrin Tech.
Dos resíduos da fruta podem ser obtidos três subprodutos: farinha
alimentar; vitaminas, enzimas e outros nutrientes; e sumo em pó
“Esta solução pode ser aplicada em
todos os frutos e vegetais que permitam
produzir um composto bioativo que te-
nha valor de mercado na indústria ali-
mentar ou cosmética”, sublinha a CEO
da AgroGrin Tech.
O PÓ MISTERIOSO
A startup já tem definido equipamento
e métodos de transformação de detritos
que poderão ser acrescentados à “reta”
final das linhas de produção das em-
presas que cultivam e comercializam
vegetais: os detritos começam por passar
por uma trituradora, que promove a se-
paração de líquidos e sólidos. Os sólidos
são encaminhados para uma unidade de
desidratação para produzirem diferen-
tes farinhas alimentares, enquanto os
líquidos são escorridos para reatores e
misturados com um pó patenteado pela
AgroGrin Tech, e que varia consoante os
vegetais ou frutos processados.
Ao ser adicionado o pó, cuja composi-
ção não é revelada por questões de sigilo
industrial, ocorre uma reação química
conhecida por precipitação, que leva um
dos compostos a depositar-se no fundo
do reator. A este depósito de resíduos
dá-se o nome de precipitado; o restante
líquido é conhecido como sumo.
Através de um processo de decantação,
precipitado e sumo são separados. “O
precipitado é desidratado e convertido
num pó de elevada concentração e pu-
rificação. Os nossos métodos permitem
produzir um precipitado à medida dos
compostos que se sabe que têm valor
para a indústria química, alimentar ou
farmacêutica”, explica Débora Campos.
Em contrapartida, o sumo também é
sujeito a um processo de desidratação,
que permite produzir um pó para reforçar
aromas, pigmentações ou até substituir
o açúcar nos sumos de fruta. “A lei não