Viaje Mais - Edição 194 (2017-07)

(Antfer) #1

NA BAGAGEM


As histórias vividas pela redação


Uma fotografia aérea
POR TALES A ZZI

F


azia tempo que eu
queria fotografar os
parrachos de Maraca-
jaú. Os parrachos são ban-
cadas de corais que existem
em uma praia a 60 km de
Natal. Eu já tinha visto fo-
tos de lá e estava louco para
fazer as minhas próprias fo-
tos daquela paisagem. Mas
a única forma de registrar
a grandiosidade daqueles
corais, que se espalham por
dezenas de quilômetros em
uma grande reserva marinha,
seria em uma imagem aérea.
Só que o valor de uma diá-
ria de helicóptero ou avião
monomotor tornava esse
registro Iotogrifico inYiiYel
Certo dia, uma amiga
que mora na praia de Mara-
cajaú me ligou e avisou que
um fotógrafo local faria um
sobrevoo de helicóptero nos
tais parrachos para fazer ima-
gens para um guia de turis-
mo. Sabendo do meu antigo
desejo de fotografar o lugar,
essa amiga arrumou para
mim uma “carona” no voo.
Imediatamente, comprei
uma passagem para Natal e
lá cheguei de manhã cedo,
apenas duas horas antes do
horário marcado para a saída
do helicóptero. A decolagem
seria do quartel da aeronáu-
tica, Tue fica bem ao lado do
aeroporto. Fui para lá e me
encontrei com o fotógrafo
do tal guia de turismo e o
piloto, um coronel da aero-

espaço e eu poder tirar uma
foto. “Espera só um pouco”,
o sujeito respondeu. Pedi no-
vamente logo depois, e nada.
Um tapa nas costas do cara e
ele permanecia imóvel, com
a câmera no rosto disparan-
do insanamente. E assim
passamos sobre as praias de
Natal, pelas dunas de Geni-
pabu, pela Lagoa do Pitan-

gui... Até que
o helicóptero co-
meçou a sobrevoar os
parrachos de Maracajaú.
Fiquei tenso. Eu planejava
aquilo há meses. Saí de São
Paulo para isso. Gastei uma
grana. Viajei de madrugada.
Tudo só para estar ali naque-
le exato momento. O clima
estava perfeito, dia de sol,
céu aberto, mar azul, maré
baixa, os arrecifes à mos-
tra, o cenário maravilhoso.
Não podia perder aquela

oportunidade. Era a hora
de agir. Desabotoei o cinto
de seguranoa, fiTuei em pp
no helicóptero e apliquei no
nobre colega de profissão
uma singela ombrada digna
de zagueiro de futebol ameri-
cano (nfim, ocupei a Manela,
apontei a câmera e disparei
uma, duas, três vezes. O co-
ronel então virou-se e gritou
lá da frente para eu me sentar
e não tirar mais o cinto de
segurança em nenhuma hi-
pótese. Obedeci. Voltei para
o lugar. Cheio de esperança,
liguei o monitor da câmera
para checar as fotos. A última
delas estava perfeita: o foco
correto, um belo enquadra-
mento, o horizonte retinho,
os barquinhos no meio dos
corais« (ra a Iotografia Tue
tanto queria fazer. Vitória!
Vitória! O objetivo tinha
sido alcançado e eu fiquei
profundamente feliz.
O helicóptero ainda
sobrevoou toda a costa sul
do estado. Passou sobre as
falésias da Praia da Pipa, a
Lagoa Coca-coca, a foz do
Rio Sagi... Mas eu não fiz
mais nenhuma foto. Nem
queria. Só aproveitei o pas-
seio. Vez ou outra, eu olhava
novamente pelo monitor da
câmera só para curtir mais
um pouco a minha foto per-
feita, que acabou na página
da revista. Nesta edição,
inclusive. É a que ilustra as
páginas 76 e 77.

náutica que nos passou um
briefing da “missão”. Por
cerca de duas horas iríamos
percorrer, a baixa altitude,
toda a costa do Rio Grande
do Norte.
No momento do embar-
Tue, o IotygraIo ́oficialμ, p
claro, pegou o melhor lugar
na janelinha, enquanto eu, o
“carona”, fui obrigado a
ir do outro lado,
bem dis-

tante
da aber-
tura na porta
onde eu poderia
apontar a câmera para foto-
grafar a paisagem. Pressenti
problemas. Decolamos.
Com o helicóptero voan-
do baixo, seguimos pela orla
sobre um visual incrível das
praias potiguares. Só que o
coleguinha fotógrafo grudou
na janela e não saiu mais da
frente. Em certo momento,
pedi licença para ele ceder o

SHUTTERSTOCK
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