Sínteses de autores-secundário.2021

(José Nuno Araújo) #1
O essencial (guia prático) de Português – ensino secundário

Relação entre a carga dramática de Matilde, o tempo da história e o tempo da escrita: Felizmente há
luar mostra-nos, claramente a censura e a falta de liberdade de ação, pensamento e expressão que se viveu
nestes dois tempos. Matilde aparece como a força do segundo ato, carregada de emoção, provocando o
clímax da história. É ela quem denuncia e quem se revolta contra o movimento castrador que se desenvolvia
por todo o país, quem ousa enfrentar o poder absoluto em prol da liberdade, da mudança e da democracia.
Usa frases simples, mas fortalecidas com grande energia, coragem e direção: “Cortam-se as árvores para
não fazerem sombra aos arbustos”. Mostra-nos que toda e qualquer ameaça ao poder conservador e
unidirecional era, imediatamente, aniquilado. Matilde oscila entre dois polos: num é uma mulher frágil e
comovida que luta exclusivamente pelo marido inocente, vítima dos interesses mais altos do reino; noutro é a
mulher forte e destemida que grita as condições do povo, a podridão das relações da igreja, a falta de índole
da nobreza e a ignorância do povo. No entanto, em ambos os casos é uma lutadora, ávida por justiça, que
acorda o público/sociedade para a lástima de pessoas que governavam em Portugal. As crises são cíclicas.
Foi no século XIX, foi no século XX e foi em muitas outras ocasiões anteriores porque o Homem é assim: não
aprende.


Símbolos:
Saia Verde
(simboliza a felicidade, pois foi comprada na terra da liberdade com o dinheiro da venda de 2
medalhas; em vida: esperança, liberdade (Paris, revolução francesa); após a Morte: a alegria do reencontro, a
esperança de que a morte do general não seja em vão e a esperança da mudança); título (mencionado 2 vezes:
D. Miguel salienta o efeito dissuasor das execuções; falta de liberdade de ação e expressão; o luar iluminaria a
noite, de modo a que todos pudessem ver o castigo dado aos que se opõem aos poderosos; Matilde, cujas
palavras remetem para um estímulo para que o povo se revolte, indicia que o luar permite que mais gente veja a
fogueira, mais gente vença o medo, mais gente se revolte e se una para mudar, e assim vão em direção à luz, à
liberdade, ao conhecimento, à justiça, à democracia); a luz (simbolicamente, esta associada à vida, à saude, à
felicidade, enquanto que a noite se associa ao mal e infelicidade); a lua (representa dependência e
periodicidade, a luz da lua, devido aos ciclos lunares; também se associa à renovação, poderá, além disso,
simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-versa); a fogueira/ o lume (por D. Miguel Forjaz – símbolo de
purificação, limpeza, ensinamento ao povo; por Matilde e Sousa Falcão – profecia de mudança, purificação e
renascimento, a chama mantém-se viva e a liberdade há-de chegar); a moeda de cinco réis (símbolo de
desprezo, a miséria do povo, a esmola humilhante que os poderosos dão com arrogância aos que nada têm; o
compromisso que o povo tem para com o General, a traição da igreja à semelhança de Judas), os tambores
(símbolo da autoridade, repressão sobre o povo; provocam o medo e prenunciam a ambiência trágica); o preto
de Sousa Falcão:
luto por si mesmo; autorrecriminação por não ter tido a coragem do General; arrepende-se da
sua cobardia).


. Teatro brechtiano:



  • Exprime a revolta contra o poder e a convicção de que é necessário mostrar o mundo e o homem em constante
    transformação;

  • Defende as capacidades do Homem que tem o direito e o dever de transformar o mundo em que vive;

  • Oferece uma análise crítica da sociedade, procurando mostrar a realidade em vez de a representar para
    “obrigar” o espectador a reagir criticamente e a tomar posição;

  • Brecht pretendia substituir o sentir pelo pensar.
    As Didascálias: Existem as didascálias normais, que se seguem ao texto, e as didascálias marginais, típicas do
    teatro de Brecht. Estas corroboram o distanciamento histórico. A falta de luz no cenário (escuridão total) mostra o
    clima da época – o regime opressor, a ignorância do povo, a obscuridade. A intensa luminosidade no Manuel
    (primeira cena) corrobora a indicação inicial “Manuel, o mais consciente dos populares”. Luz é conhecimento,
    lucidez.

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