4EDITORIAL
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á alguns anos, na minha coluna de opinião de então, aler-
tei para o grave problema de dependência tecnológica da
Europa no hardware. O problema persiste. A guerra co-
mercial entre EUA e China, que levou às sérias limitações impostas
à Huawei, e a pandemia vieram tornar mais óbvio o que pode
acontecer ao ‘velho continente’ se, por qualquer razão, incluindo
fatores naturais e conflitos comerciais ou militares, ficarmos isola-
dos de países como Estados Unidos e China. A verdade nua e crua
é que perdemos a capacidade industrial para, por exemplo, fazer
computadores. E como concorrer, ou até mesmo sobreviver, se,
por exemplo, ficarmos sem microprocessadores?
O recente apagão dos serviços Google veio mostrar outra de-
pendência: no software, agonizada pela tendência para a cloud.
Durante cerca de uma hora, Gmail e Google Drive, só para citar
alguns exemplos, ficaram indisponíveis. Para muitos utiliza-
dores, isto pouco importará. Mas para quem usa estes serviços
profissionalmente, pode ter sido razão para sérias preocupações.
Negócios que não fizeram, prazos que não se cumpriram, trabalho
que não se realizou... Este problema teria dado origem a muito
mais discussão se não tivesse acontecido durante a madrugada
nos EUA. A falha durou pouco tempo, mas permite-nos pensar
“e se o erro persistisse durante dias ou indefinidamente?” Sim,
e se, de um momento para outro, os serviços Google deixassem
de funcionar? Ou o Office 365, da Microsoft? Além dos proble-
mas pessoais, como ficarmos sem as fotos do Google Fotos ou
os nossos ficheiros no Onedrive, o que aconteceria às empresas
que usam estes serviços digitais? Umas três semanas antes do
apagão da Google, os Amazon Web Services (AWS) estiveram
offline durante várias horas. Para muita gente, esta falha passou
despercebida. Outros sentiram-na de forma indireta quando, por
exemplo, deixaram de poder controlar os aspiradores robóticos
Roomba, aceder a serviços cloud da Adobe ou ler um jornal
online. Isto porque os AWS são a ‘casa’ de um grande número
de serviços digitais, incluindo muitos armazéns de dados de
empresas. Os Roomba parecem piada, mas numa altura em que
cada vez mais sistemas estão a migrar para IoT, é fácil imaginar
o que poderá acontecer no futuro em sistemas mais críticos,
como nas áreas da segurança e saúde. Quando o software vivia
no nosso computador ou no servidor da empresa, problemas
com esses fornecedores tinham consequências relativamente
pequenas. Mas à medida que tudo muda para a cloud, o risco
para a Europa e, consequentemente para Portugal, sobe. Não é
apenas um problema comercial, é um problema de soberania.SÉRGIO MAGNO | DIRETOREUROPA REFÉM DAS
GRANDES TECNOLÓGICAS