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Na contramão da lógica


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Folha de S. Paulo/Nacional - Poder
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Hélio Schwartsman


são paulo Sempre brinco que o jeito mais fácil de salvar
vidas é baixar um decreto reduzindo a velocidade
máxima permitida para veículos. Reportagem da Folha
corroborou meu chiste, mostrando que após uma
década de reduções, os óbitos em acidentes caíram
44% na cidade de São Paulo. É claro que a diminuição
da velocidade não foi a única medida adotada, mas é
uma das variáveis-chaves, a julgar pela literatura
internacional.


Outras fórmulas eficazes para evitar mortes no atacado,
como o saneamento básico, demoram a apresentar
resultados e envolvem custos altos, mas, no caso da
velocidade, o efeito é imediato e não gera despesa.
Considerando as multas, pode até ser lucrativa para o
poder público.


Assim, num mundo racional, todo novo prefeito deveria
baixar mais a velocidade máxima na cidade, de modo a
poder dizer, na campanha para a reeleição, que salvou
x vidas no trânsito. Nossa preocupação deveria ser com
o risco cumulativo, que nos levaria ao imobilismo.


O que vemos no mundo real, porém, é que autoridades
têm enormes dificuldades para fazer o óbvio. Em São
Paulo, João Doria, que hoje proclama seguir a ciência,
fez campanha à prefeitura (2016) prometendo aumentar
a velocidade nas marginais.

Mais recentemente, o presidente Jair Bolsonaro mandou
tirar os radares de rodovias federais e bancou um
pacote de leis que promove a irresponsabilidade dos
motoristas. O que está acontecendo?

Minha hipótese é que, da mesma forma que o público
não resiste ao imediatismo econômico, não consegue
contrapor-se ao populismo viário. O motivo é
matemático. Na esmagadora maioria dos
deslocamentos que as pessoas fazem acima da
velocidade permitida, nada de grave acontece. É só
numa pequena fração deles que ocorre um óbito ou
acidente grave. Com isso, o perigo da velocidade passa
ao largo de nossas consciências. O conceito de vida
estatística poupada tem baixíssimo apelo emocional.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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