Clipping Banco Central (2021-02-27)

(Antfer) #1

Desafios da democracia latino-americana


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - FMI

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A insatisfação generalizada na América Latina com os
altos e persistentes níveis de desigualdade, corrupção,
criminalidade e serviços públicos precários provocou um
visível desgaste na redemocratização iniciada nos anos



  1. Emblematicamente, 2019 foi marcado por protestos
    violentos, notadamente no Chile, Equador, Bolívia e
    Colômbia. A pandemia esvaziou as ruas, mas agravou
    as tensões, prometendo um ciclo eleitoral em 2021-22
    dos mais incertos e instáveis.


Como conclui uma análise do Instituto Internacional de
Estudos Estratégicos (IISS, em inglês), a pandemia, a
recessão econômica e os debates emocionalmente
carregados sobre o desempenho dos governos "podem
fortalecer a mão dos candidatos populistas, que podem
levantar poderosos argumentos anti-establishment
prometendo ao mesmo tempo pródigos aumentos nos
gastos públicos".


Nenhuma região foi mais impactada pelo vírus. Com
cerca de 8% da população mundial, a América Latina
responde por quase 20% dos casos e 30% das mortes.
Os dois maiores países, Brasil e México, presididos por
populistas e negacionistas, respectivamente à direita e à


esquerda, detêm o segundo e o quarto recorde de
mortes.

O FMI estimou uma contração de 8% do PIB latino-
americano em 2020 e projeta uma retomada modesta
de 3,6% em 2021. O colapso do turismo e do varejo
praticamente pulveri- zou as receitas de muitas
localidades. Os níveis de pobreza, desigualdade e
desemprego aumentaram drasticamente em um
mercado de trabalho já marcado pela alta informalidade.
Estima-se que 45,5 milhões de latino-americanos
caíram na pobreza e 28,5 milhões na miséria - no
agregado, 231 milhões (37% da população) são hoje
pobres ou miseráveis.

A dívida pública cresceu de 57% para 67% em 2020. No
Brasil e Argentina margeiam 100%. Os programas de
vacinação - e consequentemente a abertura econômica


  • serão bem mais lentos do que na Europa ou EUA.
    Como aponta o IISS, os governos enfrentarão um
    dilema: cortar gastos rápido demais pode inflamar a
    revolta social, mas prorrogar estímulos fiscais por tempo
    demais pode elevar a dívida a níveis insustentáveis,
    deteriorando as condições de crédito. Nesse cenário,
    oito países realizarão eleições em 2021 e três, em 2022.


Em vários deles a corrupção endêmica deflagrou uma
epidemia antipolítica - sintetizada na fórmula "que se
vayan todos!". É possível que alguns líderes e partidos
eleitos, num cenário institucional já tenso e
fragmentado, tenham pouca experiência de governo. É
grande o risco de que as eleições presidenciais do
Equador, Peru e Chile em 2021 levem à ascensão de
líderes populistas - em- bora os conservadores tenham
chances - e as eleições do Brasil em 2022, à sua
manutenção.

Em relação às ditaduras de esquerda há pouca
esperança no horizonte. Em Cuba, a dinastia de 60
anos dos Castros deve se encerrar formalmente com
Raúl Castro cedendo a sua posição de primeiro-
secretário do Partido Comunista a Miguel Díaz-Canel.
Mas não é claro quem prevalecerá no Politburo: os
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