National Geographic - Portugal - Edição 240 (2021-03)

(Antfer) #1
a surgir na equação através de estudos pioneiros a
nível mundial, realizados pela Estação-Piloto de
Piscicultura de Olhão, promete ser um dos trunfos
mais importantes. Apesar de se tratar de um tipo
de pescado que causa desconfiança à maioria dos
consumidores que não querem abdicar do sabor da
sardinha fresca selvagem, poderá vir a ser uma exce-
lente vantagem para a indústria conserveira, uma
vez que os seus métodos de processamento e utiliza-
ção de temperos tornam a diferença imperceptível.
Em tempos de adversidade, os portugueses
sempre mostraram capacidade de adaptação. Na
maioria dos casos, a cooperação foi a chave certa.
Se a comunidade, a indústria, a política e a ciência
continuarem de mãos dadas, um dia será possível
voltarmos a ver a rainha do mar lusitano erguida
no seu merecido trono. j

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A Conserveira do Sul
(na imagem), assim
como as 19 restantes
que operam em
Portugal, são obrigadas a
importar sardinha devido
à quebra acentuada das
capturas. Mesmo quando
existe em lota, a percen-
tagem de importação
ronda 20 a 30%.

OS OLHOS ATENTOS DO MINISTRO DO MAR,Ricardo
Serrão Santos, aguardavam com entusiasmo os
frutos do primeiro lance do Poema do Mar. A bordo
desta traineira monumental a escassas milhas da
cidade de Olhão, o ministro foi convidado pelo mes-
tre Albino Santos para observar as provas empíricas
que o sector defende. “Actualmente, os pescadores
estão bem informados e sensíveis ao tema e são os
maiores interessados em que tenhamos mananciais
de sardinha saudáveis e produtivos. Temos de ser
cautelosos na gestão, mas para isso, é necessário
envolver todo o sector no processo de avaliação e
aconselhamento para assegurarmos uma pesca com
futuro e estabilidade”, explica o ministro, debruçado
no varandim da embarcação.
De acordo com o decisor político, que aguarda por
indicadores robustos da recuperação da sardinha,
provenientes das pescarias que se encontram a
decorrer este ano, assim como das campanhas de
monitorização dos cruzeiros científicos, tudo indica
que o recurso se encontra mais saudável e em franca
recuperação. “A partir do momento em que seja
provado que o stock se encontra pelo menos num
nível de média produtividade, será possível aliviar
as medidas restritivas”, afirma o meu interlocutor. A
conversa é interrompida por toneladas de sardinhas
saltitantes que transbordam de caixas térmicas e
fazem a festa dos homens à popa.
Quatro meses mais tarde, a campanha de moni-
torização IBERAS, conduzida pelo IPMA e pelo
Instituto Espanhol de Oceanografia durante o ano
de 2020, anunciava a boa nova: uma biomassa de
recrutamento com cerca de cem mil toneladas. São
os melhores valores dos últimos 15 anos. Consti-
tuem um motivo de alegria, mas não uma razão
para baixar a guarda, segundo Gonçalo Carva-
lho, diretor da organização não governamental
ambiental, Sciaena. De acordo com este biólogo
marinho especialista em política de pescas, o pas-
sado mostrou repetidamente as consequências
dramáticas das medidas de conservação levianas
e pouco preventivas.
É necessário que Portugal continue focado na
protecção deste recurso através de limites de pesca
para que volte aos números estáveis de outrora,
beneficiando assim a economia e sociedade que
dele dependem, mas também apostando em alter-
nativas de forma a aliviar a pressão nas vítimas do
costume para que acabem os anos angustiantes
vividos no limbo.
Segundo os especialistas, a dedicação a espécies
abundantes como o carapau e a cavala poderá ser
a solução. Além disso, a aquacultura que começa

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