Revista 3ª edição

(Anita Santana) #1

ALBERTO ARECCHI
Batuque


Ritmo de batuque batendo no ar da noite.
Iniciou cedo. Ao sair da escola,
as meninas começaram a pular
batendo o ritmo com as mãos.
Meninas de idades diversas
sacudiam suas pernas
batendo sobre o fio da corda
que andava à roda.
Máscaras brancas de ocre no rosto,
quase fantasmas saindo
das vagas do mar.
Faziam as capulanas subir até os quadris
batendo os pés ao ritmo dos palmos.
O batuque durou horas, nem sabias
se chamá-lo de dança ou de brincadeira.
As garotas se revezaram para pular na corda,
enquanto duas companheiras
estavam girando-a sempre mais rápida,
imitadas pelas irmãs mais velhas
e pelas mães, com crianças pequenas
penduradas às costas,
até por algumas avós desdentadas.
Bastavam as mãos, duas varelas,
dois pedaços de ferro
para fazer o ritmo.
A corda rodeava mais e mais rápida,
rente o chão, enquanto os pés da bailarina
mal se moviam, quase rastejando, rápidos,
e pareciam apenas levantar-se os quadris,
tremendo, com uma rápida,
quase imperceptível oscilação,
que permitia não tropeçar na medula.

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