Revista 3ª edição

(Anita Santana) #1

Agora era o ritmo insistente
do tambor de axila,
que havia encontrado o seu tom e insistia,
em uma sequela de batimentos frenéticos,
como quisesse acabar
com a pele do instrumento
ou com a vara de percussão.
Logo depois era o tambor grande,
batido com os palmos das mãos,
e os meninos recomeçaram
o rastreamento de pés no pó,
levantando os joelhos,
contorcendo-se inquietos sem parar.
Na noite ressoaram as vozes
metálicas
das mulheres da aldeia.
Cantavam e contavam baladas
de dias passados, quando o povo
reinava sobre a terra,
antes que os brancos chegassem.
Cantavam os feitos heróicos
de reis e marinheiros,
que tinham enfrentado as hordas
de leões e as vagas do mar.
Também cantavam tristes histórias
de guerra, de morte, de emigração.
Cantavam todo o sofrimento do
povo.
Em meu coração tocavam as vozes
guturais junto com as percussões frenéticas
e inquietantes, que enchiam a noite,
como se chegassem
da profundez dos séculos...
era batuque.

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