Clipping Banco Central (2021-03-06)

(Antfer) #1

A HORA DA CIÊNCIA - Situação pede medidas drásticas


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Sociedade
sábado, 6 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Natalia Pasternak


O Brasil vive seu pior momento desde o início da
pandemia. Não foi por falta de aviso. A comunidade
científica alertou para a importância das medidas
preventivas, para o uso de máscaras, para a
importância de evitar aglomerações e de manter o
distanciamento físico e social. O governo federal, ao
contrário, negou a ciência e propagou desinformação.
Não faltaram ocasiões em que o Presidente Jair
Bolsonaro diminuiu agravidadedapandemia, falou contra
o uso de máscaras, promoveu curas milagrosas e
incentivou aglomerações - inclusive participando
pessoalmente de algumas.


A ciência é clara. Estratégias de contenção funcionam.
E nem precisa ir muito além do senso comum para
entender a razão. A transmissão do coronavírus é
classificada como transmissão direta, via gotículas.
Direta porque exige o contato próximo entre pessoas, e
por gotí cuias porque o vírus é carregado justamente
nas gotí cuias que emitimos ao falar, espirrar, tossir.
Outro fator relevante é que a transmissão ocorre antes
do aparecimento dos sintomas, então pessoas vão


circular livremente sem saber que estão transmitindo.

Assim, a melhor maneira de interromper a transmissão
é implementar medidas para reduzir a interação entre
pessoas e reduzir a emissão das gotículas. Exemplos
recentes de Portugal e Inglaterra, que adotaram esta
estratégia, ainda que tardiamente, comprovam isso.
Portugal reduziu o número de casos de
aproximadamente 16 mil para menos de mil, em um
mês de lockdown. As internações caíram 73%. Na
Inglaterra, a média móvel de óbitos foi de 619 para 314
em dois meses.

Aqui, sem medidas preventivas e sem vacinas,
chegamos a uma situação de total descontrole da
pandemia, onde o vírus ganha fácil a corrida, e a
circulação livre da doença favorece o surgimento de
linhagens mais bem adaptadas, mais transmissíveis e
capazes de escapar de anticorpos e vacinas.

O resultado é um vírus mais bem sucedido em nos
infectar, e uma população confusa e dividida, sem saber
em quem confiar. Nessa situação, finalmente
começamos a considerar medidas mais drásticas como
o lockdown. A verdade é que esta é uma estratégia que
teria sido melhor se utilizada no início, como uma tropa
de choque, para depois ser seguida por medidas menos
proibitivas e de longa duração.

Antes tarde do que nunca, mas ainda enfrentamos a
resistência de setores da economia que questionam a
validade e necessidade da intervenção. Com um
planejamento adequado, estes setores estariam
protegidos com auxílios governamentais e teríamos
vacinas em quantidade adequada. Citação atribuída ao
escritor americano Robert Heinlein, conhecida como
"navalha de Heinlein", diz: "Nunca atribua à malícia o
que pode ser adequadamente explicado pela
estupidez".

Seja por estupidez ou plano de governo, chegamos a
quase dois mil mortos por dia e à beira do colapso do
sistema de saúde. Enquanto a ciência mostra o caminho
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