O risco que vem dos EUA
Banco Central do Brasil
Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
sábado, 6 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - IPCA
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Autor: Rodrigo Zeidan
Hoje, um importante risco para economia mundial vem
dos EUA, onde a inflação pode ultrapassar
ametade2%ao ano e a dívida pública vai passar de
100% do PIB, sem sinal de que vai parar de subir.
As expectativas de inflação nos EUA são as maiores
desde julho de 2008, um feito e tanto se considerarmos
que o desemprego chegou a ficar abaixo de 3% em
meados da década passada e nem assim se esperava
um aumento significativo dos índices de preço.
Um m isto de receio de aumento de preços e medo do
descontrole fiscal pelo tamanho do pacote de estímulo
econômico, de US$ 1,9 trilhão, que deve ser votado nos
próximos dias, jogou para 0 alto as taxas de juros dos
títulos públicos americanos.
Assim como no Brasil, os EUA lançam alguns títulos
púbiicos que protegem os investidores da inflação. Lá,
esses títulos têm a alcunha de Tips (Treasury Inflation-
Protected Security) e equivalem aos nossos Tesouro
IPCA (cuja remuneração para um título com vencimento
em 2035 anda em tomo de 3,8% ao ano, além da
variação do IPCA).
Assim, as expectativas de inflação nos EUA podem ser
estimadas como a diferença entre 0 retorno esperado
de uma obrigação do governo com 0 mesmo
vencimento, mas sem a proteção contra a inflação, de
uma Tips.
No pior da crise, em meados de março de 2020, quando
se temia por uma deflação, os títulos sem proteção de
inflação pagavam somente 0,16% a mais que uma Tips.
Esse 0,16% seria, portanto, a inflação esperada, já que
os investidores estavam dispostos a abandonar a
proteção de um aumento generalizado de preços por
esse 0,16% a mais de retomo por ano.
Mas desde então a inflação esperada passou a barreira
de 1% em junho, de 2% em janeiro e está em 2,4%
hoje, um índice que não acontecia desde 2008. Em
parte, isso é resultado da normalização da atividade
econômica, mas a maior remuneração das Tips é
também um sinal de que os investidores mundiais
querem mais retorno para compensar o risco de
emprestar para o Tesouro americano.
Para um brasileiro, ter investidores com medo de
emprestar para o governo é o status quo, e parece até
piada alguém se preocupar com inflação de pouco mais
de 2% ao ano, mas uma corrida contra o Tesouro
americano seria um desastre.
E os EUA ainda não atingiram o fundo do buraco fiscal.
Para este ano, a projeção é de um déficit de US$ 2,3
trilhões, mais que todo o PIB brasileiro. Mesmo como
PIB americano podendo crescer quase4%, a dívida
pública dos EUA deve passar de 100% do PIB, em
2021, crescendo ao longo desta década até atingir
110% em 2030.
Obviamente, os EUA estão muito, mas muito longe de
um real descontrole inflacionário, como no Brasil da
década de 1980, pois o processo é longo.