O governo Biden e o Brasil
Banco Central do BrasilO Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
terça-feira, 9 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - ColunistasClique aqui para abrir a imagemAutor: Rubens Barbosa
O tom das relações entre o Brasil e os EUA, no início do
governo Biden, foi definido pelas recentes declarações
das porta-vozes da Casa Branca e do Departamento de
Estado de que "a prioridade é manter o diálogo e buscar
oportunidades para trabalhar conjuntamente com o
governo brasileiro nas questões em que haja interesse
nacional comum, pois existe uma relação econômica
estratégica entre os dois países e o governo Biden não
se vai limitar a tratar de áreas em que haja discordância,
seja em clima, direitos humanos, democracia ou outros".
A atitude do governo dos EUA pode ser explicada pela
decisão da Casa Branca de adotar uma postura inicial
firme e assertiva em termos de política interna (combate
à pandemia, vacinação, imigração) e uma posição
cautelosa em política externa (acordo nuclear com o Irã,
China, Rússia) para não confrontar seus críticos
republicanos.
Nessa primeira fase do relacionamento com o Brasil,
Washington decidiu adotar uma atitude de não
confrontação, até mesmo na resposta de Joe Biden a
Jair Bolsonaro, e iniciar conversas sobre diversos temas
das relações bilaterais. Não deixa de ser uma atitude
pragmática de ambos os lados e, do ponto de vista do
governo brasileiro, a percepção de algum avanço. O
governo americano, no entanto, não está alheio às
manifestações públicas de grupos de pressão pedindo
medidas duras contra o Brasil. O documento assinado
por ex-ministros e negociadores norte-americanos
critica a política ambiental brasileira e pede medidas
contra o Brasil caso não haja mudança nas políticas de
proteção da Amazônia e de mudança de clima. O
trabalho Recomendações sobre o Brasil ao Presidente
Biden, encaminhado por professores norte-americanos,
brasileiros e diversas ONGs, faz duros reparos à política
ambiental, a direitos humanos, democracia e pede a
suspensão da cooperação com o Brasil em diversas
áreas, como defesa, comércio exterior, meio ambiente e
outras.O presidente da Comissão de Relações Exteriores do
Senado também enviou carta ao presidente Bolsonaro e
ao ministro Ernesto Araújo pedindo explicações e
retratação de declarações julgadas favoráveis à invasão
do Congresso em Washington. Por fim, um grupo de
deputados norte-americanos enviou correspondência ao
Senado pedindo a suspensão de programas de
cooperação na área de defesa por problemas com os
quilombolas no Centro de Lançamento de Alcântara. O
conteúdo dos documentos e dessas correspondências,
combinado com o anúncio da política ambiental pelo
presidente Biden, com referência específica à Amazô-
nia, causou preocupação pelos eventuais impactos no
Brasil.Do lado do governo brasileiro houve três ações para
tentar evitar medidas concretas contra o País: a carta de
Bolsonaro a Biden em que manifesta a "disposição" de
continuar "nossa parceria em prol do desenvolvimento
sustentável e da proteção do meio ambiente, em
especial a Amazônia, com base em nosso Diálogo
Ambiental, recém-inaugurado"; o telefonema do ministro
Araújo com o secretário de Estado Blinken; e a reunião
telefônica entre o chanceler, o ministro do Meio
Ambiente e John Kerry, responsável pelos EUA. O setor