Novo cenário político leva a revisão de projeções
Banco Central do Brasil
O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
quarta-feira, 10 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central
Clique aqui para abrir a imagem
Autor: Luciana Dyniewicz
A incerteza gerada pelo novo cenário político, com a
possibilidade de o ex-presidente Lula se candidatar e o
risco de o presidente Jair Bolsonaro adotar uma agenda
mais populista para ganhar popularidade até 2022, que
se soma a um cenário já conturbado na economia, já fez
consultorias e corretoras reverem suas projeções
macroeconômicas para este ano e para o próximo. Em
linhas gerais, os economistas apostam em inflação e
taxa de juros mais altos, real mais desvalorizado e PIB
mais fraco em 2022.
A MB Associados reajustou ontem suas estimativas
para o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)
deste ano, de 4% para 4,3%, e para a taxa básica de
juros (Selic) em dezembro, de 4% para 5,5%. A
consultoria também anunciou que deve rever a projeção
do PIB de 2022 de 2,4% para abaixo de 2%.
"Temos dois candidatos com dificuldade de fazer gestão
de política macroeconômica equilibrada. Bolsonaro está
agora ainda mais impaciente para entregar algo para a
população. Do lado do Lula, não o vejo fazendo uma
Carta ao Povo Brasileiro. Não o vejo se aproximando do
mercado. Ao contrário, a dificuldade em se relacionar
com o mercado cresceu depois do impeachment da
Dilma", diz o economista-chefe da MB, Sérgio Vale.
Segundo ele, o estresse atual no mercado financeiro
decorrente da incerteza política deve pressionar de
forma mais permanente os preços dos ativos, como a
moeda, que já está se desvalorizando. Um real mais
fraco afetará o preço dos importados e, portanto,
elevará a inflação. Esse cenário deve fazer o Banco
Central elevar a taxa de juros. Isso deve ter um impacto
negativo na atividade econômica do próximo ano.
Maior pressão. A Necton Investimentos também revisou
o IPCA, de 4,1% para 4,58%, e a Selic, de 4% para 5%.
Segundo o economista-chefe da corretora, André
Perfeito, o que deve pressionar mais inflação e juro,
agora, é o comportamento do presidente Bolsonaro.
Perfeito diz ver Bolsonaro em posição fragilizada,
encurralado por diferentes atores políticos, e tendo de
escolher quem serão seus aliados. Nessa situação,
pode optar por medidas populistas para evitar perder
sua popularidade entre, por exemplo, militares, se
indispondo com o mercado. "Há um conjunto de
pressões em torno do presidente, e a questão Lula é
mais uma que o joga para uma situação de
desconforto."
O economista afirma ainda que a incerteza política
aumentou, o que eleva também o risco de se investir no
País e a taxa de juros que os investidores pedem para
emprestar ao governo. Tudo isso pode reduzir a
quantidade de crédito na economia e dificultar a
retomada econômica.
Apesar de a consultoria LCA não ter mexido em suas
projeções, seu economista-chefe, Braulio Borges, afirma
que possivelmente terá de elevar a atual estimativa da
Selic - hoje em 4,5%. Para o PIB deste ano, ele acha
difícil haver um resultado inferior aos 3,2% que projeta
hoje por causa do carrego estatístico (quando a base de
comparação é baixa - o resultado médio do PIB em