Conhecimento Prático Língua Portuguesa e Literatura - Edição 77 (2019-06)

(Antfer) #1
48 | LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA

PRODUÇÃO DE TEXTO / Processos criativos


é, antes de tudo, falar em leitura, em muita lei-
tura. “Quem não lê, não abre os olhos para o
mundo. É como diz Paulo Freire, ‘a leitura do
mundo precede a leitura de textos’. Portanto,
para que a pessoa se adone desse talento da
escrita, deve ter lido muito antes. De bula de
remédio aos grandes clássicos. Das fábulas in-
fantis a teses e dissertações sobre o tema. De
Paulo Coelho a Machado de Assis, Dostoiévski
e o que hoje se produz, em se falando de litera-
tura, como FERRÉZ 4 , MAYA FALKS 5 e outros novos
nomes que estão surgindo”.
Mas a criatividade não é exigida apenas
para as grandes obras literárias. Um simples
e-mail bem escrito pode abrir portas poderosas.
Claro lembra que escrever exige a definição de
objetivos, de destinatários e do gênero textual


  • bilhete, carta, contrato, artigo, ensaio, notícia,
    um post na rede social, por exemplo –, afinal
    não se escreve um bilhete em casa da mesma
    forma que se faz um ofício para um diretor.
    Como, então, pedir aos alunos que sejam
    criativos na hora de produzirem seus textos?
    MARCUSCHI 6 argumenta que a escola é, infeliz-
    mente, um dos poucos espaços em que, em
    geral, não se consideram as funções que a es-
    crita pode apresentar, que são as de informar,
    convencer, pedir, emocionar, agir e interagir,


por exemplo. Escreve-se pela simples razão de
exercitar a escrita, desconsiderando que ela
não tem um fim em si mesma; sua importância
está no uso que se faz dela.
E aí chega a hora da verdade: Mas o que é um
texto criativo? Que variáveis podem ser eviden-
ciadas na produção de um texto criativo? Zula
Garcia Giglio, pesquisadora sobre criatividade
na produção de textos a partir de um estudo
com professores da educação básica, afirma que
o texto criativo evidencia-se pela “liberdade de
expressar o novo, seja ele manifestado por uma
maneira pessoal de usar a língua ou pela apre-
sentação de ideias originais, produzido a partir
da elaboração individual de experiências”.
O escritor, ensaísta e crítico literário John
Gardner, falando sobre escrita literária, pontua
que, como toda arte, escrever depende considera-
velmente de sensibilidade, intuição e gosto. O au-
tor salienta que a primeira e única regra essencial
para o escritor criativo é a seguinte: “Embora exis-
tam fórmulas para a ficção medíocre e de fácil
publicação – ficção imitativa – não existem para
a verdadeira ficção, da mesma forma que não há
regras para as artes visuais ou para a composição
musical de qualidade. O que existe são técnicas


  • centenas delas – as quais, como truques de car-
    pinteiro, podem ser ensinadas e aprendidas”.


Nem só as oficinas de escrita podem
ajudar na produção de um bom texto.
Há vários livros que percorrem esse
caminho. Entre eles, há o Tirando de
letra, de Chico Moura e Wilma Moura.
De maneira objetiva, os autores, eles
próprios professores de redação e
editores de obras dedicadas ao ensi-
no da língua portuguesa, oferecem
ferramentas básicas para que o leitor
tenha segurança para escrever de ma-
neira simples e correta.
Outra boa dica é Redação infalível,
de Débora Aladim. A autora dá dicas
de organização de estudos para os
vestibulandos. Nele, Débora Aladim —
criadora do canal do YouTube que leva
seu nome e tem mais de 1,5 milhão de

inscritos — usa uma linguagem ágil e
atual para conversar com o público jo-
vem que precisa aprender os primeiros
passos na organização dos estudos.
E para quem deseja entrar no mundo
da literatura, o Escrever ficção, de
Luiz Antonio de Assis Brasil, faz as
honras da casa. Nesse livro o escritor
e professor registra sua experiência
ao longo de 34 anos com a Oficina
de Criação Literária da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande
do Sul. Essas três obras fazem par-
te de um pacote sobre o tema da
Companhia das Letras.
Em Para Escrever Bem, de Maria
Elena Ortiz Assumpção e Maria Otilia
Bochini (Editora Manole), o público-

-alvo são aqueles que não têm muita
intimidade com o texto. Nele, as escri-
toras apontam como é possível fazer
construções menos ou mais fáceis,
sem cair no erro ou no clichê.
Já em Da Fala para a Escrita leva a
assinatura de Luiz Antonio Marcuschi
(Cortez Editora), e o foco do livro é
sobre fala, escrita e os processos de
retextualização que podem levar de
uma à outra. Um livro sem enrolação.
Em Desenvolvendo os Segredos do
Texto (Cortez Editora), da linguista
brasileira Ingedore Grunfeld Villaça
Kock, a questão da linguagem é o
centro do estudo. Mais voltado para a
compreensão de textos, como ponte
ao caminho da escrita.

LER PARA BEM ESCREVER


FERRÉZ
Nome artístico de
Reginaldo Ferreira da
Silva, é romancista,
contista, poeta e
empreendedor, um
dos maiores autores
da denominada
literatura marginal.

4

5

6

MAYA FALKS
É publicitária,
jornalista e
escritora.

LUIZ
ANTONIO
MARCUSCHI
( 1946 - 2016 )
Doutor em
Letras pela
Universidade
de Erlangen-
Nuremberga,
foi linguista,
escritor, e
professor
universitário
brasileiro.

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