Clipping Banco Central (2021-03-12)

(Antfer) #1

A inflação que distorce a economia


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Opinião
sexta-feira, 12 de março de 2021
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Para um país que conviveu com taxas de inflação que
chegaram a 80% ao mês -- com preços sendo
remarcados diariamente --, e que ao fim de duas
décadas marcadas pela hiperinflação, quatro planos
econômicos, duas mudanças de moeda e ainda não
havia conseguido debelar o descontrole de preços, é
inimaginável pensar em índices como a inflação de
6.821% ao ano em abril de 1990. Há quase 27 anos o
Brasil não sabe mais o que é hiperinflação e mesmo
que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenha dito
no fim do ano passado que há risco de o país voltar a
viver esse processo, a chance de que isso ocorra hoje é
zero. E ele, com o cargo que ocupa, deveria ser o
primeiro a dizer com que armas se pode evitar a
escalada dos preços, que hoje, embora longe do
descontrole dos tempos recentes, está se tornando um
problema para cidadãos e empresas. O IPCA, inflação
oficial, fechou fevereiro com alta de 0,86%, mais de três
vezes superior à taxa de janeiro e a mais alta para o
mês desde 2016.


Em 12 meses, o indicador encosta no teto da meta
inflacionária para o ano, que é de 3,75% com margem
de 1,5 ponto para menos (2,25%) ou para mais (5,25%).


Ficou em 5,20%. E mais, na primeira prévia de março, o
IGP-M, que mede a inflação no atacado, teve alta de
1,95% e, com isso, o acumulado em 12 meses passou
de 28,17% para 29,83%. Esses índices devem acender
a luz amarela no governo.

Os preços se aceleram no embalo dos sucessivos
reajustes da gasolina e do óleo diesel nas refinarias.
Apenas neste ano, registram altas acumuladas de 53%
e 40%, respectivamente. Alta do dólar ante o real e a
valorização das commodities agrícolas no mercado
internacional completam a pressão sobre os preços hoje
no Brasil. Longe de reivindicar intervenções esdrúxulas,
como tabelamento, é preciso que o governo esteja
atento para equilibrar as relações entre os agentes
econômicos com medidas que equacionem distorções,
como o fato de a Petrobras ter assegurada sua
recomposição de custos enquanto a maior parte da
iniciativa privada tem que sacrificar margens diante da
impossibilidade de reajustar preços.

É louvável a iniciativa de se discutir a constituição de
um fundo para amortizar a necessidade de reajustes
nos preços nas refinarias. Esse fundo, a princípio
constituído por recursos dos royalties e participações
pagas ao governo provenientes de petróleo e gás, seria
usado para eliminar a necessidade de reajustes em
curto espaço de tempo em caso de alta do óleo no
mercado internacional e do dólar. Além disso, parece
urgente que o governo reveja sua política de estoques
reguladores de alimentos, esvaziados nos últimos anos.
Não é uma solução sem custo, mas evitaria aumentos
expressivos do arroz e do feijão, presentes na refeição
diária da maioria dos brasileiros. É mais do que pedir
para produtores deixarem um pouco da produção no
Brasil, como fez o presidente Jair Bolsonaro.

Outro problema que distorce a economia é o valor do
dólar acima de R$ 5. Exportadores, em tese, lucram,
mas importadores sofrem elevação expressiva de
custos sem poder repassar para os preços. Afeta
também os próprios exportadores, que trazem de fora
máquinas e equipamentos e insumos para a produção.
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