Clipping Banco Central (2021-03-13)

(Antfer) #1

Coluna Opinião - Inflação torna inevitável alta nos juros


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
sábado, 13 de março de 2021
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Conjuntura econômica deste ano exige ainda mais
responsabilidade de políticos e governo com os gastos


Parece contrassenso iniciar um aperto monetário com a
economia sem tração e o desemprego crescente. Mas é
preferível a permitir que a alta de preços se espalhe e
agrave a crise. A alta dos juros tomou-se praticamente
inevitável com a inflação de 5,2% em 12 meses, acima
da meta estipulada para este ano, de 3,75%. É
consensual que, na próxima reunião do Copom, o
Banco Central porá fim ao período de sete meses em
que os juros básicos têm permanecido em 2%, seu piso
histórico desde a criação da Selic em 1979. Se
confirmada, será a primeira alta nos juros em seis anos.


A pressão inflacionária resulta de uma mistura de
moeda desvalorizada com alta das commodities no
exterior. O encarecimento dos combustíveis e alimentos
exportados, como carnes e óleo de soja, reflete essa
conjuntura. A expectativa de economistas como Luiz
Roberto Cunha, da PUC-RJ, é que a inflação bata em
7% anuais até o segundo semestre, depois retroceda
para a faixa dos 4% até dezembro. A previsão é
confirmada pelas estimativas do relatório Focus, do BC,


que prevê alta nos juros de até 4% no fim do ano.

A inflação encerrou o ano passado em 4,25%, depois de
acelerar em dezembro, quando registrou a maior alta
desde 2016. Neste ano, os preços ao consumidor já
subiram 0,25% em janeiro e 0,86% em fevereiro. Numa
das áreas meus sensíveis, os alimentos, a inflação
anual foi de 15% em 12 meses, quase o triplo do índice
amplo. Numa situação como a atual, o BC não pode
deixar que a inflação se espalhe pela economia. A
maneira de evitar isso é com a elevação dos juros.

Como, no primeiro semestre do ano passado, a inflação
foi baixei, os índices dos próximos meses
inevitavelmente tendem a ser mais altos na comparação
com os resultados de 2020, diz Cunha. As pressões,
como o câmbio, persistem. Mas todas as expectativas
do mercado dependem, claro, de como governo e
Congresso se comportarão diante da política econômica
e das reformas.

O presidente Jair Bolsonaro, com seus erros e
negacionismo diante da pandemia, termina ajudando a
alta de preços, por reforçar a tendência de
desvalorização do real. Investidores passam a evitar o
Brasil, e os que estão no país começam a sair. Entram
menos dólares, o câmbio desvaloriza ainda mais. O
choque inflacionário poderia ser mitigado pela alta nos
preços de commodities exportadas pelo país: carnes,
soja e seus derivados, vendidas principalmente para a
China, em plena recuperação depois de controlar a
epidemia. Mesmo assim, a fuga de capitais, resultante
dos desatinos de Bolsonaro, tem superado o fluxo
favorável de dólares que derivaria dessas vendas.

Para piorar, a resposta de Bolsonaro tem sido errada.
Interveio na Petrobras numa tentativa de retardar a
remarcação de preços, mas nem isso conseguiu, já que
há limites estatutários ao que pode fazer. Só conseguiu
minar ainda mais a confiança do mercado em seu
governo.

O cenário reforça a necessidade de cuidados com as
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