Artigo - Copom em foco
Banco Central do BrasilO Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
sábado, 13 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Banco CentralClique aqui para abrir a imagemAutor: JOSÉ MÁRCIO CAMARGO
Na próxima semana o Copom fará sua primeira reunião
após a aprovação da autonomia formal do Banco
Central, que concede mandatos fixos para os dirigentes
da instituição, o que faz com que a autoridade
monetária se torne menos vulnerável a intervenções do
executivo. O resultado desta reunião será de grande
importância para o futuro da política monetária, pois
existem fatores que justificam a manutenção da taxa
básica de juros, assim como fatores que justificam o
início da normalização da política monetária, com
aumento das taxas de juros.
No primeiro caso, além dos altos níveis de ociosidade e
da elevada taxa de desemprego, os indicadores de
atividade mostram desaceleração neste início de 2021,
principalmente por causa do agravamento da pandemia,
introdução de medidas de restrição à mobilidade urbana
e lockdowns localizados em diferentes cidades e
Estados, como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São
Paulo.
Da mesma forma, não apenas a taxa de desemprego
continua bastante elevada, apesar do forte crescimento
da ocupação no segundo semestre de 2020, assim
como a desaceleração da atividade deverá levar a uma
redução no ritmo de geração de postos de trabalho no
primeiro trimestre de 2021. Em outras palavras, não
existem sinais de que a economia brasileira esteja
próxima a uma aceleração inflacionária em razão do
excesso de demanda, o que justificaria a manutenção
da Selic nos níveis atuais.De outro lado, existem fatores importantes que indicam
a necessidade de iniciar o processo de normalização da
política monetária e aumento da taxa Selic. Primeiro, o
aumento acentuado dos preços das commodities em
geral, inclusive do petróleo. Historicamente, como o
Brasil é um grande exportador de commodities,
aumentos de seus preços tendem a gerar melhora nos
termos de troca do País e, em consequência,
valorização da taxa de câmbio, o que, em parte,
compensa os efeitos dos aumentos de preços das
commodities sobre a inflação. Entretanto, por causa do
elevado risco fiscal percebido pelos investidores, o
reduzido diferencial das taxas de juros entre o Brasil e
os países desenvolvidos e emergentes, o real tem sido
fortemente pressionado, desde o início da pandemia em
março de 2020. A intervenção do presidente da
República na Petrobrás e a decisão do ministro Edson
Fachin de anular todas as condenações do ex-
presidente Lula na Operação Lava Jato agravaram este
quadro de incertezas, gerando mais desvalorização
cambial. A dúvida entre os investidores é se a
intervenção na Petrobrás é pontual ou se indica uma
mudança mais estrutural da política econômica em
direção a uma estratégia mais populista, dúvida
agravada com a volta do ex-presidente Lula ao cenário
político-eleitoral.Com o aumento da incerteza fiscal e a forte
desvalorização do real as expectativas para a inflação
em 2021 já estão acima da meta e começam a
influenciar as expectativas para 2022, indicando risco de
desancoragem das expectativas inflacionárias e perda
de credibilidade da autoridade monetária.