ENTREVISTA - Marisa Drew: Está faltando “S” no ESG
Banco Central do Brasil
Revista Exame/Nacional - Entrevista
quinta-feira, 11 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Bitcoins
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Autor: Rodrigo Caetano
Para a financista americana Marisa Drew, presidente da
área de investimento de impacto do banco Credit
Suisse, o capital aplicado em empreendimentos sociais
é necessário para a sociedade
Os profissionais do mundo das finanças de hoje
receberam, provavelmente, uma formação tradicional —
gestão, contabilidade etc. Foi assim com a financista
americana Marisa Drew, presidente do departamento de
investimento de impacto do banco Credit Suisse.
Integrante do conselho de liderança feminina da
Universidade Harvard, nos Estados Unidos, Drew
entende que esse jeito de ensinar está errado. Falta
incluir, na prática administrativa, um componente
crucial: a sociedade.
Drew fez uma carreira brilhante no mercado financeiro
tradicional. Antes de se juntar ao banco suíço, em 2003,
trabalhou no Merrill Lynch por 11 anos. Foi reconhecida
como uma das mulheres mais poderosas do mercado
financeiro pela BBC e pela Fortune, e integra a lista
“100 Mulheres mais Influentes nas Finanças”, do
Financial News. Mas, agora, ela busca dar outro sentido
para a palavra “retorno” — um que não permita o uso
conjunto da expressão “a qualquer custo”.
Essa construção passa por reconhecer a falsa dicotomia
entre gerar impacto positivo e obter retorno financeiro.
As duas coisas não apenas andam juntas como o
impacto positivo é um sinal de que o negócio, ou
investimento, está no caminho certo. E mais: é
imperativo que as empresas entendam a lógica, ou as
desigualdades sociais vão “implodir” a sociedade. Do
escritório em Londres, Drew falou com a EXAME por
videoconferência.
Num evento do Banco Mundial, em 2019, a senhora
disse que a onda ESG que se formava na época não
era “só pela grana”. Para um banco do porte do Credit
Suisse, o que motiva essa mudança?
Preciso fazer um esforço para me lembrar disso, foi há
tanto tempo. No mundo do ESG, um ano equivale a
uma década em tempo normal. Provavelmente, eu
estava falando sobre a falsa dicotomia entre dinheiro e
impacto positivo. Não precisamos abrir mão de retorno
para mobilizar capital em favor do bem. Não estamos
falando de “finanças benevolentes”. No mundo
financeiro tradicional, havia uma separação entre
filantropia e desenvolvimento social, de um lado, e
ganhar dinheiro, de outro. Essa teoria se mostrou
errada. Buscar gerar impacto positivo com seu capital
não apenas oferece oportunidades de grandes retornos
como permite uma avaliação melhor dos riscos. Esse é
o grande “despertar” das finanças sustentáveis.
Estamos entrando na chamada “década da ação”, para
atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS) da ONU. O que isso representa para o mundo
financeiro?
É interessante você trazer o tema dos ODS.